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“Proibição do uso de uniforme da PRM é um atentado à liberdade artística”

Depois de quase dois anos de muitas incertezas no seio dos fazedores da arte, sem poderem se fazer ao palco, devido às restrições impostas pela COVID-19, hoje, os artistas estão proibidos de usar o uniforme da Polícia, para quaisquer actuações artístico-culturais.

<p>Foi atrav&eacute;s da instru&ccedil;&atilde;o 14/2021 que o Comando-geral da Pol&iacute;cia da Rep&uacute;blica de Mo&ccedil;ambique proibiu o uso do uniforme da PRM e de qualquer indument&aacute;ria similar que se confunda com o uniforme policial, por civis, em quaisquer circunst&acirc;ncias.</p> <p>Sem apontar o dedo, o Comandante-geral da PRM, Bernardino Rafael, avan&ccedil;ou que com esta medida visa-se p&ocirc;r fim aos cada vez mais frequentes pedidos de autoriza&ccedil;&atilde;o para o uso do fardamento da Pol&iacute;cia, por artistas (entre cantores e actores), que, no seu entender, t&ecirc;m usado em actua&ccedil;&otilde;es que n&atilde;o abonam a boa imagem da corpora&ccedil;&atilde;o.</p> <p>L&ecirc;-se na instru&ccedil;&atilde;o 14/2021, ora enviada a todas as unidades policiais, para cumprimento imediato, que esta decis&atilde;o &eacute; tomada &ldquo;em conformidade com o n&uacute;mero 2 do artigo 1 do Regulamento de Uniforme da Pol&iacute;cia da Rep&uacute;blica de Mo&ccedil;ambique, aprovado pelo decreto n&ordm; 72/2016, de 30 de Dezembro, que estabelece que os modelos do uniforme, suas cores, distintivos, bem como outros sinais identificativos da PRM, s&atilde;o de uso exclusivo dos membros da PRM com fun&ccedil;&otilde;es policias. Por isso, instruo a proibi&ccedil;&atilde;o do uso do uniforme policial, do esp&oacute;lio da PRM e de indument&aacute;ria auxiliar que se confunda com uniforme policial, por civis, em quaisquer circunst&acirc;ncias&rdquo;.</p> <p>E assim estava armado o bra&ccedil;o de ferro entre a PRM e a classe dos fazedores da arte (actores, m&uacute;sicos, outros).</p> <p>De um lado, a Pol&iacute;cia n&atilde;o quer mais ver os artistas actuando com o seu fardamento, do outro lado, est&atilde;o os artistas que consideram infundada a decis&atilde;o e acima de tudo pretende p&ocirc;r algemas &agrave;s artes.</p> <p>Falando em nome da Associa&ccedil;&atilde;o Mo&ccedil;ambicana de Teatro &ndash; AMOTE, o actor e Docente Universit&aacute;rio, Dadivo Jos&eacute; diz ter ficado surpreso com a decis&atilde;o da PRM, que vem muitos anos depois de uma harmonia e cordialidade inquestion&aacute;vel entre as partes.</p> <p>Dadivo Jos&eacute; respeita a decis&atilde;o do Comandante da PRM, no entanto estranha a forma como esta veio a p&uacute;blico, pois esperava que houvesse uma consulta antecipada &agrave; AMOTE, como sendo o organismo que vela pelos interesses da classe dos artistas do teatro no pa&iacute;s.</p> <p>&ldquo;Apesar de reconhecermos que alguns colegas nossos t&ecirc;m usado o uniforme de forma pouco justificada, n&oacute;s achamos que esta decis&atilde;o &eacute; um atentado &agrave; liberdade criativa. Tirar o figurino da Pol&iacute;cia do nosso repert&oacute;rio &eacute; o mesmo que dizer que o Pol&iacute;cia n&atilde;o faz parte do nosso imagin&aacute;rio art&iacute;stico, o que n&atilde;o &eacute; verdade&rdquo;.</p> <p>O actor continua dizendo que &ldquo;com boas ou m&aacute;s ac&ccedil;&otilde;es, cabe aos artistas saberem como projectar as suas ac&ccedil;&otilde;es (boas ou m&aacute;s), pois a Pol&iacute;cia faz parte da nossa sociedade&rdquo;.</p> <p>Diante desta decis&atilde;o, considerada unilateral, a AMOTE diz estar aberta para o di&aacute;logo, por forma a serem encontradas solu&ccedil;&otilde;es que abonem a arte e a cultura mo&ccedil;ambicana.</p> <p>A mesma opini&atilde;o &eacute; partilhada pelo gestor art&iacute;stico e actor, F&eacute;lix Mambucho, que considera haver muita leviandade quando s&atilde;o tomadas decis&otilde;es que implicam a arte.</p> <p>&Eacute; consensual que esta decis&atilde;o ir&aacute; causar alguns desajustes no tecido criativo art&iacute;stico, mas, para Mambucho o que est&aacute; em causa n&atilde;o &eacute; a proibi&ccedil;&atilde;o em si, mas a forma &ldquo;autorit&aacute;ria&rdquo; como esta decis&atilde;o vem.</p> <p>&ldquo;O grande problema desta proibi&ccedil;&atilde;o n&atilde;o tem muitos contornos art&iacute;sticos, pois a n&iacute;vel do teatro n&oacute;s temos v&aacute;rias formas de representar a Pol&iacute;cia: a forma de andar, de agir, a autoridade que exibe, etc., mas est&aacute; na forma como esta decis&atilde;o chega, sem querer saber se haver&aacute; algu&eacute;m a ser lesado&ldquo;, desabafa F&eacute;lix Mambucho.</p> <p>Os fazedores de teatro, os principais visados, invocam a lei para se defenderem, citando o Artigo 94 da Constitui&ccedil;&atilde;o da Rep&uacute;blica que determina que &ldquo;Todos os cidad&atilde;os t&ecirc;m direito &agrave; liberdade de cria&ccedil;&atilde;o cient&iacute;fica, t&eacute;cnica, liter&aacute;ria e art&iacute;stica&rdquo;.</p> <p>Mas nem todos v&ecirc;m ao todo irregularidades no procedimento.</p> <p>Apesar de n&atilde;o concordar com a decis&atilde;o, o actor F&eacute;lix Tinga defende que os artistas devem usar esta proibi&ccedil;&atilde;o como combust&iacute;vel para a revolu&ccedil;&atilde;o do fazer da arte e cultura.</p> <p>&ldquo;N&atilde;o vejo raz&otilde;es para alarme. Pelo contr&aacute;rio, n&oacute;s como artistas devemos nos preocupar em criar mais, usar os nossos conhecimentos para simbolizar a Pol&iacute;cia. N&oacute;s n&atilde;o precisamos usar o uniforme da Pol&iacute;cia para demonstrar que estamos a represent&aacute;-la. H&aacute; simbolismos&rdquo; referiu o actor.</p> <p>O Antrop&oacute;logo e Docente Universit&aacute;rio, Genito Santana defende que mais do que proibir, devia-se encontrar mecanismos de debate, em prol da arte e da cultura.</p> <p>&ldquo;O que &eacute; importante &eacute; que n&atilde;o se polarize as opini&otilde;es. Que sejam criadas plataformas de di&aacute;logo entre a corpora&ccedil;&atilde;o e a associa&ccedil;&atilde;o dos artistas. &Eacute; certo que &eacute; uma lei, mas temos que pensar no futuro, nos filmes, nas novelas, como ser&aacute;? Ent&atilde;o deve haver um entendimento do artista sobre o que &eacute; a lei e da Pol&iacute;cia sobre o que &eacute; a arte&rdquo;, concluiu.</p> <p>Depois de muito ouvir o posicionamento de quem &eacute; directamente implicado pela decis&atilde;o, consultamos um jurista, ao que nos revelou: &ldquo;A decis&atilde;o de proibir o uso de uniformes da PRM por parte de civis &eacute; ilegal&rdquo;.</p> <p>S&eacute;rgio Massingue aponta que uma simples instru&ccedil;&atilde;o n&atilde;o pode, em nenhum momento, se sobrepor a um decreto do Conselho de Ministros.</p> <p>Para o jurista, a instru&ccedil;&atilde;o 14/2021 n&atilde;o tem poder jur&iacute;dico para opor-se ao que vem plasmado no decreto 72/2016, de 30 de Dezembro, aprovado pelo Conselho de Ministros, que no n&uacute;mero 5, do artigo 2, determina que:&nbsp;<strong>&ldquo;</strong>O uso de uniforme, distintivos e outros sinais identificativos da PRM n&atilde;o &eacute; permitido a cidad&atilde;os que n&atilde;o tenham fun&ccedil;&otilde;es policiais na PRM, excepto mediante autoriza&ccedil;&atilde;o expressa ao Comandante-geral da PRM, em casos devidamente fundamentados<strong>&rdquo;</strong></p> <p>O jurista aconselha para que haja pondera&ccedil;&atilde;o na tomada das decis&otilde;es que possam prejudicar o funcionamento de certas &aacute;reas de trabalho, por&eacute;m vai mais longe, chamando &agrave; raz&atilde;o a corpora&ccedil;&atilde;o para os problemas que realmente n&atilde;o abonam a imagem da Pol&iacute;cia, de acordo com a lei.</p> <p>&ldquo;Quem est&aacute; a usar mal o uniforme &eacute; o pr&oacute;prio Pol&iacute;cia. Quantas vezes n&atilde;o assistimos agentes se comportando mal, trajando uniforme da PRM&rdquo;.</p> <p>O jurista invoca o regulamento de uniforme da PRM, o decreto 72/2016, artigo 2, nos n&uacute;meros 6,7 e 8 que indicam as condi&ccedil;&otilde;es e proibi&ccedil;&otilde;es do uso de uniforme.</p> <p>Encontramos nos artigos 7 e 8 proibi&ccedil;&otilde;es como &ldquo;cabelo desfrisado, uso de acess&oacute;rios, consumo de bebidas alco&oacute;licas, entre outras&rdquo;.</p> <p>&ldquo;Quantas vezes n&atilde;o assistimos a nossa Pol&iacute;cia com cabelos longos, acess&oacute;rios, outros sem a placa de identifica&ccedil;&atilde;o, e quando um cidad&atilde;o o exige, pode at&eacute; ser detido? Portanto, acho que mais do que se preocupar com as proibi&ccedil;&otilde;es, o nosso comandante devia come&ccedil;ar a olhar para dentro e encontrar solu&ccedil;&otilde;es para os reais problemas da nossa Pol&iacute;cia&rdquo;, concluiu o jurista.</p> <p>Enfim, prevalecendo esta proibi&ccedil;&atilde;o, ao p&uacute;blico s&oacute; v&atilde;o restar as lembran&ccedil;as das v&aacute;rias, emocionantes e educativas actua&ccedil;&otilde;es art&iacute;stico-culturais em que tinham como figurino, os nossos pol&iacute;cias.</p>

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