E-Learning
  • Para Mais Informações!
  • +258 87 30 30 705 | 84 30 30 709
  • info@edu-tech-global.com
'Os Maias' transmite a ideia que a colonização foi necessária e benéfica

Uma análise racial ao livro 'Os Maias', de Eça de Queirós, realizada por uma investigadora numa universidade norte-americana, concluiu que a mensagem sobre o colonialismo que os alunos recebem quando o leem é que "a colonização foi necessária e benéfica".

<p>Vanusa Vera-Cruz Lima, investigadora cabo-verdiana na Universidade de Massachusetts Dartmouth, nos Estados Unidos, onde est&aacute; a tirar o doutoramento em estudos luso-afro-brasileiros, disse &agrave; ag&ecirc;ncia Lusa que esta obra, publicada em 1888, &quot;transmite uma imagem de &Aacute;frica como sendo uma terra de &#39;selvagens&#39; e &#39;incivilizados&#39;, que resulta na justifica&ccedil;&atilde;o da explora&ccedil;&atilde;o portuguesa neste continente&quot;.</p> <p>Na sua an&aacute;lise racial a uma das obras mais conhecidas de E&ccedil;a de Queir&oacute;s, autor de leitura obrigat&oacute;ria na disciplina de Portugu&ecirc;s no ensino secund&aacute;rio, Vanusa Vera-Cruz Lima apresenta v&aacute;rias cita&ccedil;&otilde;es do romance que &quot;evidenciam o processo de coloniza&ccedil;&atilde;o&quot; como tendo sido &quot;necess&aacute;rio para a &#39;salva&ccedil;&atilde;o&#39; das pessoas que viviam nas terras africanas&quot;.</p> <p>Para Ega, uma personagem com relev&acirc;ncia neste romance, que relata a hist&oacute;ria de uma fam&iacute;lia ao longo de tr&ecirc;s gera&ccedil;&otilde;es, em finais do s&eacute;culo XIX, &quot;a coloniza&ccedil;&atilde;o tinha um outro &#39;sabor&#39;, porque transformaria os negros em pessoas &#39;civilizadas&#39; e, com isso, n&atilde;o haveria nada de pitoresco que chamasse a aten&ccedil;&atilde;o aos turistas&quot;, refere a autora da tese de doutoramento, para a qual fez esta an&aacute;lise racial, citando uma passagem da obra.</p> <p>&Eacute; tamb&eacute;m desta personagem a passagem: &quot;Porque n&atilde;o se deixaria o preto sossegado, na calma posse dos seus manipansos? Que mal fazia &agrave; ordem das coisas que houvesse selvagens? Pelo contr&aacute;rio, davam ao Universo uma deliciosa quantidade de pitoresco&quot;.</p> <p>A investigadora sublinha que &quot;o romance, e n&atilde;o necessariamente o autor, passa uma mensagem de que a coloniza&ccedil;&atilde;o em &Aacute;frica trouxe &#39;salva&ccedil;&atilde;o&#39;&quot;.</p> <p>E escolheu outra cita&ccedil;&atilde;o do cap&iacute;tulo V da obra: &quot;Mas eu lhe digo, meu querido Ega, nas col&oacute;nias todas as coisas belas, todas as coisas grandes est&atilde;o feitas. Libertaram-se j&aacute; os escravos; deu-se-lhes j&aacute; uma suficiente da moral crist&atilde;; organizaram-se j&aacute; os servi&ccedil;os aduaneiros... Enfim o melhor est&aacute; feito. Em todo o caso h&aacute; ainda detalhes interessantes a terminar... Por exemplo, em Luanda... Menciono isto apenas como um pormenor, um retoque mais de progresso a dar. Em Luanda, precisava-se bem de um teatro normal, como elemento civilizador!&quot;.</p> <p>Vanusa Vera-Cruz Lima afirma que o prop&oacute;sito da sua an&aacute;lise &eacute; contribuir para &quot;se repensar a forma como a obra &eacute; ensinada nas escolas, contribuindo para uma reflex&atilde;o e expans&atilde;o racial&quot;.</p> <p>Garante a investigadora que n&atilde;o defende, com esta avalia&ccedil;&atilde;o, ao fim da sua leitura no ensino portugu&ecirc;s.</p> <p>&quot;Pelo contr&aacute;rio, este romance &eacute; uma ferramenta ideal para criar oportunidades de ensino e instru&ccedil;&atilde;o culturalmente respons&aacute;veis, para que possamos atender &agrave;s necessidades de todos os alunos&quot;, disse.</p> <p>E concluiu: &quot;&Eacute; um material para explorarmos valores e comportamentos relacionados com a ra&ccedil;a que existiam na &eacute;poca, mas que continuam a se manifestar em v&aacute;rios aspetos da sociedade atual&quot;.</p> <p>&quot;N&atilde;o vejo o cancelamento de sua leitura como uma solu&ccedil;&atilde;o&quot;, frisou.</p> <p>De origem cabo-verdiana, Vanusa Vera-Cruz Lima &eacute; licenciada em Rela&ccedil;&otilde;es Internacionais (Universidade C&acirc;ndido Mendes -- Rio de Janeiro) e mestre em lingu&iacute;stica aplicada.</p> <p>Leu &#39;Os Maias&#39; pela primeira vez durante o ensino secund&aacute;rio, em Cabo Verde, quando E&ccedil;a de Queir&oacute;s lhe foi apresentado como &quot;um dos mais importantes escritores da literatura portuguesa&quot;. Voltou &agrave; obra no &acirc;mbito do programa do seu doutoramento.</p> <p>&nbsp;</p>

Tags:
Partilhar: