Uma nova orquestra, de nome Real Câmara, que se propõe recuperar o "legado orquestral do barroco português", estreia-se hoje no Palácio da Ajuda, em Lisboa.
<p>O concerto 'Dal Tevere al Tago' ('Do Tibre ao Tejo'), na sala D. Luís do palácio, às 19h00, é antecedido, às 18h00 por uma conferência pela musicóloga Cristina Fernandes, intitulada 'Este os saraus no Paço e os passeios no Tejo: os instrumentistas da Real Câmara e as práticas musicais da corte na época setecentista'.</p> <p>"Na conferência falarei uma pouco da história da orquestra da Real Câmara, dos seus músicos, dos repertórios e diferentes funções no âmbito do quotidiano da corte, fazendo a ponte com o programa musical que vai ser interpretado", adiantou a investigadora à agência Lusa.</p> <p>A orquestra "tem por principal missão a recuperação e divulgação de repertório setecentista português, em Portugal e no estrangeiro, assim como do trabalho de músicos portugueses desenvolvido na área da interpretação historicamente informada", segundo nota divulgada.</p> <p>Embora "a maior parte das obras dos compositores ativos em Portugal", da geração setecentista, tenha desaparecido no terramoto de 1755, em Lisboa, "um trabalho prolongado de investigação musicológica possibilita, hoje, a escuta de parte do repertório sobrevivente", além de permitir revelar "um pouco desta 'época de ouro' da história da música portuguesa", segundo a mesma nota.</p> <p>Para Cristina Fernandes, "é de extrema importância o surgimento de um novo agrupamento com o perfil da orquestra barroca Real Câmara, ou seja, poder contar com músicos de alto nível, especializados nas práticas interpretavas históricas, empenhados em descobrir, estudar e divulgar os repertórios que faziam parte da vida musical [portuguesa] no século XVIII, tanto de compositores portugueses como de estrangeiros, cujas obras integravam a vivência musical da época".</p> <p>Segundo Fernandes, a Real Câmara "constituiu a ponte mais eficaz" para levar parte do trabalho de investigação nesta área, "frequentemente demasiado especializado", a um "público alargado e para mostrar como a música do passado permanece relevante no presente tanto no plano da fruição como do conhecimento".</p> <p>A musicóloga realçou que "vários membros da Real Câmara dedicam-se também à investigação, e estão muito atentos ao património musical relacionado com Portugal, tanto o que se guarda nas bibliotecas e arquivos, como o que subsiste em coleções estrangeiras".</p> <p>A orquestra é constituída por 16 músicos e terá a direção artística do maestro e violinista italiano Enrico Onofri, que soma décadas de interpretação e investigação na área da interpretação historicamente informada.</p> <p>Ao concerto de hoje, segue-se, na terça-feira às 17h00, um concerto na Basílica dos Mártires, também em Lisboa, inicialmente previsto para a Basílica de Mafra.</p> <p>O programa do concerto apresenta peças de compositores italianos e portugueses do reinado de João V, algumas em estreia moderna, como 'Ogni fronda chè mossa dal vento', da serenata 'Il vaticinio di Pallade, e di Mercurio', de Francisco António de Almeida (1703-1754), que foi um dos bolseiros portugueses em Itália, nessa época, e que foi apresentada no Palácio Real da Ribeira, em 1731, culminando "com louvores ao rei magnânimo".</p> <p>Em estreia moderna, são também apresentadas as obras de Rinaldo di Capua (1705-1780) 'Nacqui agli affani in seno', ária do 'dramma per musica' 'Catone in Utica', 'Tutti nemeci e rei, tutti tremar dovete', de 'Adriano in Siria', e ainda, de Giovanni Bononcini (1670-1747), 'Mio sposo t' arresta', ária de 'Farnace'.</p> <p>A par das estreias modernas mundiais, como a do Divertimento I, de Pedro Jorge Avondano (1692-1755), neste concerto há também algumas estreias nacionais, como a do 1.º Concerto 'à violino principale', de Gaetano Maria Schiassi (1698-1754).</p> <p> </p>