O caçador de elefantes invisíveis é o título do mais recente livro de Mia Couto. A obra literária reúne contos escritos ao longo de dois anos e foi apresentada ao público na Fundação Fernando Leite Couto, na Cidade de Maputo.
<p>No princípio da COVID-19, Mia Couto escreveu um texto que foi publicado no <em>The New York Times</em>, dos Estados Unidos. O título desse texto é “Um gentil ladrão” e, na cerimónia de lançamento do livro, realizada esta quarta-feira, na Fundação Fernando Couto, Cidade de Maputo, foi lido pela actriz Sufaida Moiane. Nessa história, uma personagem é confrontada com estas novas exigências de usar a máscara e que tem perante isso uma resposta muito ingénua. Esse foi praticamente um princípio de um exercício que agora termina em livro de contos, intitulado <em>O caçador de elefantes invisíveis</em>.</p> <p>Comentando sobre o seu mais recente título, Mia Couto explicou que <em>O caçador de elefantes invisíveis </em>é dedicado a todas as pessoas que encontra na rua e que lhe alimentam a esperança, “às pessoas que me fazem pensar que Moçambique é feito de pequenas histórias, de gente que não quer ficar na invisibilidade, que, todos os dias, quando têm de ir para casa, entram num <em>my love</em>, num <em>chapa</em> e correm o risco de não ter outro destino se não for essa invisibilidade. Portanto, as histórias são feitas para render esse espaço de visibilidade a essas pessoas”.</p> <p>Antes, os 26 contos que constituem o livro de 172 páginas não estavam escritos no formato actual. Primeiro, eram crónicas, que, ao longo de dois anos, foram publicadas na revista portuguesa <em>Visão</em>. “Quase todos os contos são ou sobre a guerra em Cabo Delgado ou sobre a maneira como nós vivemos a pandemia”, preveniu o escritor, lembrando que o enredo das histórias partem de realidades difíceis. Também por isso, Mia escreveu-os como quem se liberta da dor, afinal, segundo disse, a literatura é uma maneira de nos encontrarmos para além dessa realidade, buscando-se a luz ou uma esperança. “Foi por isso que escrevi, não foi para sofrer mais, foi para me libertar desse sofrimento, para transformar esse sofrimento, para que tenha uma resposta positiva”.</p> <p>Na cerimónia que marcou o regresso aos lançamentos com presença do público na Fundação Fernando Leite Couto, um dos apresentadores do livro <em>O caçador de elefantes invisíveis</em>, o jornalista Elton Pila, sublinhou o seguinte: “As realidades a que o livro se refere são de um presente que até podemos tocar. Estamos a falar da pandemia, da situação de Cabo Delgado, destas marchas de destruição de estatuas que se acredita que serviram a um determinado momento e que já não é o momento que nós estamos a viver, nesta ideia de reposição de heróis e de condenação do passado vivido. É o Mia a apontar a ideia de que sim, talvez seja possível pegar a realidade em flagrante. O livro vale a pena sobretudo por esta ideia de que dentro de um quarto escuro pode entrar um feixe de luz e, a partir disso, pensarmos que há um mundo lá fora e por isso continua a valer a pena viver”.</p> <p>O caçador de elefantes invisíveis foi lançado sob a chancela da Fundação Fernando Leite Couto.</p>