
O Arquipélago - Centro de Artes Contemporâneas, em São Miguel, inaugura hoje a primeira exposição nos Açores dedicada à autora portuguesa Ana Hatherly, com obras que pertencem à coleção da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD).
<p>A escritora Ana Hatherly, que morreu a 05 de agosto de 2015, em Lisboa, com 86 anos, é um dos nomes mais importantes do experimentalismo português, autora de uma vasta obra iniciada em 1958, repartida pela poesia, ficção, ensaio, artes plásticas e tradução.</p> <p>A mostra "A Escritora -- Ana Hatherly na Coleção da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento", vai estar patente a partir de sábado e até 20 de junho no centro açoriano de artes Arquipélago, localizado na cidade da Ribeira Grande, na ilha de São Miguel.</p> <p>Segundo a secretaria regional da Cultura, da Ciência e Transição Digital, que através da Direção Regional da Cultura, inaugura a mostra, as obras apresentadas provêm de "um importante núcleo de trabalhos da artista", que pertence à coleção da FLAD.</p> <p>O diretor do Arquipélago e curador da exposição, João Mourão, explica, citado no comunicado de apresentação da mostra, que esta reúne "mais de 60 desenhos (...), todos de pequeno formato, o tamanho de um postal que se escreve em cima da mesa de jantar, ou ao colo, guardados num caderno de notas".</p> <p>"Neles podemos entrever uma arqueologia da escrita, que nos conduz às origens dos signos e às heranças da caligrafia oriental, que a artista copiava, disciplinadamente", sublinha.</p> <p>Os trabalhos, datados de 1964 a 1989, "são testemunhos da pesquisa desenvolvida em torno da letra, do alfabeto, da palavra, da frase, revelando uma mão inteligente para quem é impossível distinguir entre artes visuais e poesia, imagem e texto, experimentação e academia", adianta ainda o curador da exposição.</p> <p>Paralelamente à mostra, o espaço cultural adianta que está ainda "prevista a ativação de atividades em torno da exposição, promovidas pelo Serviço de Mediação, tais como 'visitas-oficinas' e visitas guiadas".</p> <p>Nascida no Porto em 1929, Ana Hatherly licenciou-se em Filologia Germânica pela Universidade Clássica de Lisboa e doutorou-se em Estudos Hispânicos do Século de Oiro, pela Universidade da Califórnia, em Berkeley, nos Estados Unidos.</p> <p>Foi professora catedrática na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde criou, em 1994, o Instituto de Estudos Portugueses. Deu ainda aulas no Ar.Co (1975-1976) e na Escola Superior de Cinema, entre 1976 e 1978.</p> <p>Desempenhou funções de diretora-adjunta da revista Loreto 13, da Associação Portuguesa de Escritores, de diretora da revista Claro-Escuro (sobre estudos barrocos), que fundou, e de presidente para a Comissão para a Tradução e os Direitos Linguísticos do PEN Clube Internacional.</p> <p>No domínio literário, Ana Hatherly estreou-se em 1958 com a coletânea de poemas "Ritmo Perdido", a que se seguiram "As Aparências", "A Dama e o Cavaleiro", "Sigma", "Anagramático", "O Escritor", "Poesia (1958-1978)", "O Cisne Intacto" e "A cidade das palavras", "A Idade da Escrita" e "Rilkeana", entre outras.</p> <p>Na ficção, escreveu "O Mestre", "Crónicas, Anacrónicas, Quase-Tisanas e outras Neo-Prosas", "Anacrusa" e, no ensaio, "O Espaço Crítico", "PO.EX - Poesia Experimental Portuguesa (com E. M. de Mello e Castro)", "A Experiência do Prodígio - Bases Teóricas e Antologia de Textos-Visuais Portugueses dos séculos XVII e XVIII", "Defesa e Condenação da Manice", "A Casa das Musas: Uma Releitura Crítica da Tradição" e "O Ladrão Cristalino".</p> <p>A estes títulos somam-se estudos sobre o Barroco em Portugal, que a consagraram como um dos maiores especialistas deste período, e traduções de obras inglesas, francesas, italianas e espanholas.</p> <p>Além do Barroco, a escritora interessou-se também, nos anos de 1960, pelas escritas orientais - nomeadamente a chinesa - e pelo Budismo Zen, domínios sobre os quais produziu alguns estudos e que de algum modo deixaram marcas nos seus poemas e nos seus trabalhos pictóricos.</p> <p>Ainda nos anos de 1970, a escritora acrescentou uma outra vertente à sua já então multifacetada prática cultural, diplomando-se em estudos cinematográficos na London Film School, e realizando quatro pequenos filmes.</p> <p>No que concerne aos seus trabalhos nas artes visuais, realizou diversas exposições individuais e coletivas, tanto a nível nacional como internacional, salientando-se a Bienal de Veneza, a Bienal de S. Paulo, o Museu do Chiado, a Fundação Calouste Gulbenkian e a Fundação da Casa de Serralves, podendo encontrar-se cerca de 200 trabalhos da artista, produzidos entre 1960 e 2002, na obra "A Mão Inteligente" (2002).</p> <p>Está representada em diversas coleções públicas e privadas, como as da Fundação Calouste Gulbenkian, da Fundação de Serralves e da Culturgest/CGD, além da FLAD.</p> <p>Tem várias obras literárias distinguidas: "O Ladrão Cristalino", com o Prémio de Ensaio da Associação Portuguesa de Escritores (2000), "Rilkeana", com o Prémio de Poesia do PEN Club (2001) e, "O Pavão Negro", com o Prémio da Crítica da Associação Portuguesa dos Críticos Literários (2005).</p> <p>Recebeu ainda o Prémio Évelyne Encelot (2003), que distingue mulheres europeias pelas suas obras nas áreas das artes ou das ciências, e a Medalha de Mérito Linguístico e Filológico Oskar Nobiling (1978), da Sociedade Brasileira de Língua e Literatura do Rio de Janeiro, entre outras distinções.</p> <p>Em 2017, a Fundação Fundação Carmona e Costa, em Lisboa, expôs mais de 100 obras da artista plástica, poeta e realizadora na mostra "Ana Hatherly: Território Anagramático", conjugando criações em desenho, gravura, vídeo e edição, criadas entre 1970 e 2012.</p>