O relógio marcava 7h20 quando a equipa de reportagem do Jornal de Angola chegou à casa do pequeno Bismarck Francisco, para acompanhá-lo no primeiro dia de aulas.
<p>O relógio marcava 7h20 quando a equipa de reportagem do Jornal de Angola chegou à casa do pequeno Bismarck Francisco, para acompanhá-lo no primeiro dia de aulas. Ainda ensonado e meio retraído, Bi, como é carinhosamente tratado por familiares, estava deitado no cadeirão da sala, enrolado em uma toalha de cor verde, com os olhos fixos na tela do televisor, assistindo desenhos animados.</p> <p>Saúda a repórter bem baixinho, quase sem vontade: "Bom dia titi Celeste”. </p> <p>- Bom dia Bi, dormiste bem? Estás bem-disposto para o dia de aulas? </p> <p>O pequeno Bismarck responde, abanando a cabeça lentamente, quando uma voz, de repente, ressoa do quarto. "Bi, vem já para começar a te preparar”. Era a irmã mais velha, Casiana, chamando. </p> <p>Ainda sem vontade de se levantar, o pequeno permanece deitado, bem forradinho. </p> <p>Casiana saiu do quarto e vem à busca do irmão na sala, tomando-o pelos braços e levando-o com carinho para o vestir. </p> <p>Enquanto aguardávamos pelo Bismarck, a irmã mais nova contou que ele não deu trabalho para ser acordado. </p> <p>Uniformizado, com um calção azul e camisa da mesma cor, Bismarck aproximou-se e disse: "Já estou pronto titi”, arrancando mais uma vez da repórter um sorriso. </p> <p>Antes de sair de casa não poderia faltar o sagrado "matabicho”. O pequeno-almoço reforçado era feijoada, que cheirava muito bem. Bismack deu apenas três a quatro garfadas e pós-se em pé, colocando a mochila azul nas costas e o chapéu, também azul, na cabeça. </p> <p>"Eh, estás bem azulado Bi”, exclamou a irmã mais velha, fazendo com que todos soltassem gargalhadas. Curioso, como sempre, Birmack não parava quieto. Apesar de não estar com bom humor, estava atento ao pequeno bloco, onde a repórter anotava tudo minuciosamente, e sempre com perguntas na ponta da língua. </p> <p>"Titi Celeste, vieste mais de carro como da outra vez? Vão me dar boleia para ir à escola?”, perguntou à repórter, que delicadamente respondeu que sim. </p> <p>Após se preparar, terminar de fazer a refeição matinal e repousar alguns minutos para fazer a digestão, Bismarck estava preparado para enfrentar o seu primeiro dia de aulas, mas, antes, fez questão de mostrar o seu lanche. </p> <p>"Olha, estou a levar bolacha, sumo e maracujá”, disse, voltando a pôr tudo na mochila. </p> <p>"Pronto, agora podemos ir”, acrescentou, passando em frente de todos. </p> <p>Enquanto caminhávamos em direcção à Escola do ensino primário Metodista de Ruth nº 3082, que fica bem próximo de sua casa, o pequeno Bismarck esteve tranquilo, sem apresentar nenhum comportamento de recusa ou mimos próprios de crianças da sua idade. Ao longo do trajecto, nos deparamos com mães e encarregados de educação que levavam os filhos, irmãos ou sobrinhos à escola. Era visível a tristeza nos rostos das crianças e notável a indisposição. "Não quero ir”, era uma das frases mais ouvidas. </p> <p>Chegados à escola, Bismarck olha atentamente para todos os cantos. Contava-se o número de encarregados de educação e alunos. </p> <p>Acomodados no pátio da escola, enquanto esperávamos pelo professor do Bi, uma senhora passa segurando o seu filho pela mão, que soluçava. "Cala já, o menino que chora na escola os colegas lhe chamam de burro”, exclamou a senhora, tentando acalmá-lo. </p> <p>Bismarck Francisco contemplava todo o cenário e o rosto começou a ficar entristecido como se quisesse chorar, mas nenhuma lágrima derramava. Estás triste porquê? Perguntou a repórter. "Já quero ir para casa”, respondeu Bismarck. </p> <p>- Mas ainda agora chegamos? </p> <p>- Aqui só tem três miúdos, respondeu, com ares de tristeza. </p> <p>Enquanto as irmãs consultavam as listas para saber onde a criança iria estudar, a repórter tentava aliviar a tensão do pequeno Bi, dizendo-lhe que tudo ficaria bem e ele teria muitos amigos para brincar. </p> <p>Vamos, diz a irmã, o teu professor já está na sala. O docente permitiu a entrada de Casiana na turma, que, de seguida, acomodou o irmão numa das carteiras e despediu-se do irmão, ajeitando a gola de sua camisa e retirando o chapéu. </p> <p>Bi, retirou o caderno e o lápis da mochila e, sem cerimónias, começou a copiar o que estava escrito no quadro. "Luanda aos 04 de Setembro”. </p> <p>Bismack parou por instantes e olhou entre as aberturas do gradeamento da janela, para acenar com a mão, despedindo-se da repórter, que lhe enviou um beijo a distância.</p> <p> </p> <p>Fonte: Jornal de Angola - https://www.jornaldeangola.ao/ao/noticias/o-primeiro-dia-de-aulas/</p>