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"Não podemos esquecer as consequências da retórica de Hitler"

Em 'Campos de Concentração Nazis – Sobreviventes e Fugitivos' Inês Figueiras conta-nos histórias chocantes e impensáveis relatos de superação e fuga da "página mais negra da História contemporânea". Ao Notícias ao Minuto, a autora frisa ser fundamental aprendermos com os erros do passado. "Mas muitos ainda não o fizeram", lamenta.

<p>N&atilde;o h&aacute; tanto tempo assim, entre 1933 e 1945, milh&otilde;es de pessoas foram encerradas em campos de concentra&ccedil;&atilde;o e submetidas &agrave; barb&aacute;rie nazi apenas porque a sua condi&ccedil;&atilde;o f&iacute;sica, mental, &eacute;tnica, religiosa, social ou sexual n&atilde;o seguia os padr&otilde;es definidos pela ret&oacute;rica de &oacute;dio de Adolf Hitler. Todos conhecemos a p&aacute;gina mais negra da Hist&oacute;ria contempor&acirc;nea. Mas para nunca esquecer &eacute; preciso lembrar.</p> <p>Esse &eacute; o prop&oacute;sito de In&ecirc;s Figueiras&nbsp; na obra&nbsp;<a href="https://www.guerraepaz.pt/inicio/715-campos-de-concentracao-nazis-sobreviventes-e-fugitivos.html" target="_blank">&#39;Campos de Concentra&ccedil;&atilde;o Nazis &ndash; Sobreviventes e Fugitivos&#39;</a>&nbsp;(pela editora Guerra e Paz) ao recuperar, oito d&eacute;cadas depois, alguns dos &quot;chocantes e impens&aacute;veis&quot; relatos de supera&ccedil;&atilde;o e fuga. Um livro que tem como objetivo maior preservar a mem&oacute;ria dos sobreviventes do Holocausto, &quot;para que a hist&oacute;ria n&atilde;o se repita&quot;.</p> <p>A autora lembra o &quot;complexo sistema de segrega&ccedil;&atilde;o, paralelo aos conflitos da Segunda Guerra Mundial, composto por campos de concentra&ccedil;&atilde;o, campos de prisioneiros de guerra, campos de tr&acirc;nsito, campos de trabalhos for&ccedil;ados, campos de exterm&iacute;nio, bord&eacute;is de prostitui&ccedil;&atilde;o for&ccedil;ada e centros de eutan&aacute;sia, de interrup&ccedil;&atilde;o for&ccedil;ada de gravidez e de germaniza&ccedil;&atilde;o de crian&ccedil;as&quot;.&nbsp;</p> <p>Com os espancamentos, a escravid&atilde;o, a viola&ccedil;&atilde;o, a fome, a priva&ccedil;&atilde;o de sono, a tifo e de outras enfermidades, o destino das v&iacute;timas &quot;do inferno na Terra&quot; era quase certo: o gaseamento e os fornos cremat&oacute;rios. 11 milh&otilde;es de pessoas morreram. Mas, &quot;entre os horrores dos campos nazis, existiram tamb&eacute;m alguns milagres&quot;. E s&atilde;o alguns desses milagres - incluindo a hist&oacute;ria de uma portuguesa natural de Ponte de Lima - que preenchem as p&aacute;ginas desta obra.</p> <p><img alt="Notícias ao Minuto" src="https://media-manager.noticiasaominuto.com/gallery/1920/naom_60baabcb75a5d.jpg" style="height:410px; width:270px" />Campos de Concentra&ccedil;&atilde;o Nazis &ndash; Sobreviventes e Fugitivos&copy; Guerra e Paz&nbsp;</p> <p>&quot;Estas pessoas sobreviveram por um conjunto de pequenos e grandes milagres, como o acesso a condi&ccedil;&otilde;es um pouco melhores do que a maioria, ajuda e compaix&atilde;o de terceiros, for&ccedil;a interior e determina&ccedil;&atilde;o, instinto ou o simples acaso&quot;, afirma a autora na nota introdut&oacute;ria do livro que est&aacute; nas bancas desde o passado dia 18 de maio.&nbsp;</p> <p>Em conversa com o&nbsp;Not&iacute;cias ao Minuto, explica como chegou &agrave;s hist&oacute;rias destes sobreviventes e alerta para a semelhan&ccedil;a do discurso de &oacute;dio da extrema-direita atual com o discurso de Hitler. &quot;&Eacute; muito preocupante&quot;, diz.&nbsp;</p> <p>Como surgiu a ideia de escrever sobre este per&iacute;odo da hist&oacute;ria?&nbsp;</p> <p>O livro &#39;Campos de Concentra&ccedil;&atilde;o Nazis: Sobreviventes e Fugitivos&#39; nasceu de uma ideia do editor da Guerra e Paz, Manuel S. Fonseca, que acompanhou todo o processo de escrita e, com a sua experi&ecirc;ncia na arte de contar hist&oacute;rias, sem se desviar dos factos, emprestou mais vibra&ccedil;&atilde;o e humanidade &agrave; narrativa, com diversas sugest&otilde;es.</p> <p>Como &eacute; que chegou &agrave;s hist&oacute;rias que conta no livro?&nbsp;</p> <p>Pesquisei hist&oacute;rias de sobreviventes do Holocausto em diversos arquivos digitais, como os do Museu do Holocausto dos Estados Unidos, do Yad Vashem ou da Biblioteca Brit&acirc;nica, e ouvi horas e horas de entrevistas dispon&iacute;veis em &aacute;udio ou v&iacute;deo. Li tamb&eacute;m entrevistas e reportagens de diversos jornais, analisei relat&oacute;rios de alguns sobreviventes, vi filmes e document&aacute;rios. Foi assim que cheguei a estas hist&oacute;rias, selecionando as de pessoas que estiveram presas em campos de concentra&ccedil;&atilde;o e que sobreviveram at&eacute; ao fim da Segunda Guerra Mundial ou que conseguiram at&eacute; a incr&iacute;vel fa&ccedil;anha de fugir de um deles. Depois de selecionar as hist&oacute;rias que ia contar, cruzei diversas fontes de informa&ccedil;&atilde;o, para tentar ser o mais fiel poss&iacute;vel aos acontecimentos.</p> <p>Procurei dar alguma diversidade ao livro no que diz respeito &agrave;s origens e ao tipo de experi&ecirc;ncias por que cada uma destas pessoas passou. Estas pessoas poderiam ter sido pais ou av&oacute;s de qualquer um de n&oacute;s e, para mim, era importante passar essa mensagem aos leitores. Por isso, embora os judeus tenham sido as principais v&iacute;timas, quis contar tamb&eacute;m outras hist&oacute;rias. Neste livro h&aacute;, por exemplo, cat&oacute;licos, escuteiros, ciganos. H&aacute; tamb&eacute;m pessoas de diferentes nacionalidades, algumas das quais improv&aacute;veis, como o caso dos portugueses.</p> <p>Perto de mil portugueses que foram submetidos a trabalhos for&ccedil;ados para alimentar o esfor&ccedil;o de guerra alem&atilde;o. Pelo menos oito dezenas de portugueses estiveram presos em campos de concentra&ccedil;&atilde;o nazis. &Eacute; muita gente, tendo em conta que Portugal se declarou um pa&iacute;s neutro durante a Segunda Guerra Mundial</p> <p>E a hist&oacute;ria da portuguesa Maria Barbosa?</p> <p>Cheguei &agrave;s hist&oacute;rias dos portugueses atrav&eacute;s de algumas reportagens de jornalistas portugueses e selecionei a hist&oacute;ria de Maria Barbosa, natural de Ponte de Lima, para dar voz a esta parte esquecida da hist&oacute;ria. Alguns investigadores, historiadores e jornalistas t&ecirc;m feito um bel&iacute;ssimo trabalho de pesquisa destas hist&oacute;rias, mas h&aacute; ainda muito por fazer. At&eacute; h&aacute; poucos anos, nem sequer t&iacute;nhamos no&ccedil;&atilde;o de que havia v&iacute;timas portuguesas dos campos de concentra&ccedil;&atilde;o nazis. Uma equipa de investigadores do Instituto de Hist&oacute;ria Contempor&acirc;nea da Universidade Nova de Lisboa, num projeto liderado pelo historiador Fernando Rosas, identificou perto de mil portugueses que foram submetidos a trabalhos for&ccedil;ados para alimentar o esfor&ccedil;o de guerra alem&atilde;o. Pelo menos oito dezenas de portugueses estiveram presos em campos de concentra&ccedil;&atilde;o nazis. &Eacute; muita gente, tendo em conta que Portugal se declarou um pa&iacute;s neutro durante a Segunda Guerra Mundial.</p> <p>Perante todo o sofrimento que viviam nos campos de concentra&ccedil;&atilde;o, muitas pessoas acabaram por desejar a pr&oacute;pria morte, correndo de encontro ao arame farpado eletrificado</p> <p>O que &eacute; mais a impressionou no percurso destas pessoas?</p> <p>O que mais me impressionou foi a incr&iacute;vel capacidade de sobreviv&ecirc;ncia nas condi&ccedil;&otilde;es mais terr&iacute;veis, a que nenhum ser humano deveria ser submetido, muito menos v&iacute;timas absolutamente inocentes, crian&ccedil;as e jovens, pessoas que sofreram processos de completa desumaniza&ccedil;&atilde;o apenas porque um louco determinou que os culpados dos problemas da sociedade eram os judeus, os negros, os ciganos.</p> <p>Perante todo o sofrimento que viviam nos campos de concentra&ccedil;&atilde;o, muitas pessoas acabaram por desejar a pr&oacute;pria morte, correndo de encontro ao arame farpado eletrificado. A dor, o desespero, a falta de esperan&ccedil;a tomou conta de muitas pessoas. Mas outras conseguiram encontrar for&ccedil;as que elas pr&oacute;prias provavelmente nem imaginavam ter.</p> <p>Neste livro, conto, por exemplo, a hist&oacute;ria de uma ginecologista que, quando descobriu que as gr&aacute;vidas eram atiradas vivas para o cremat&oacute;rio, em Auschwitz-Birkenau, ajudou centenas de mulheres a abortar, na esperan&ccedil;a de que, assim, pelo menos uma vida se salvasse, j&aacute; que salvar m&atilde;e e filho era imposs&iacute;vel.</p> <p>Ou de um homem que passou por v&aacute;rios campos de concentra&ccedil;&atilde;o e, j&aacute; no fim da guerra, sobreviveu at&eacute; ao bombardeamento dos navios instalados na ba&iacute;a de L&uuml;beck, com milhares de prisioneiros fechados l&aacute; dentro, que acabaram por morrer, aos milhares, em chamas, asfixiados ou afogados. S&atilde;o hist&oacute;rias incr&iacute;veis e que, a cada par&aacute;grafo, impressionam pelo que revelam do pior e do melhor que h&aacute; em cada ser humano. Estas pessoas sobreviveram para contar a hist&oacute;ria e &eacute; gra&ccedil;as a elas que sabemos o que realmente se passou dentro dos campos de concentra&ccedil;&atilde;o, mas milh&otilde;es de pessoas n&atilde;o tiveram a mesma sorte.</p> <p>Quando &eacute; que vamos perceber que somos todos iguais, independentemente do tom de pele, da religi&atilde;o, do local em que nascemos? N&atilde;o podemos esquecer as consequ&ecirc;ncias da ret&oacute;rica de Hitler e n&atilde;o podemos deixar que a Hist&oacute;ria se repita</p> <p>Considera que o mundo aprendeu bem a li&ccedil;&atilde;o do per&iacute;odo mais negro da sua hist&oacute;ria?</p> <p>&Eacute; fundamental aprendermos com os erros do passado, mas muitos ainda n&atilde;o o fizeram. Se lermos o Mein Kampf, de Adolf Hitler, vamos encontrar semelhan&ccedil;as a discursos de &oacute;dio da extrema-direita atual, e isso &eacute; muito preocupante.</p> <p>V&ecirc; nos populismos que agora crescem na Europa, incluindo em Portugal, um perigo?</p> <p>Os discursos populistas tendem a ganhar terreno com o descontentamento geral das popula&ccedil;&otilde;es e, infelizmente, t&ecirc;m vindo a ganhar terreno na Europa, incluindo Portugal. Incentivar o &oacute;dio contra determinados grupos n&atilde;o &eacute; solu&ccedil;&atilde;o para nada. Quando &eacute; que vamos perceber que somos todos iguais, independentemente do tom de pele, da religi&atilde;o, do local em que nascemos? N&atilde;o podemos esquecer as consequ&ecirc;ncias da ret&oacute;rica de Hitler e n&atilde;o podemos deixar que a Hist&oacute;ria se repita</p>

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