Um grupo de investigadores da Universidade do Porto alertou hoje que a arritmia cardíaca mais comum na população, chamada fibrilhação auricular, não está a ser tratada de forma adequada numa percentagem muito significativa de doentes.
<p>De acordo com o trabalho publicado no British Medical Journal Open (BMJ Open), "cerca de 27% dos doentes com este tipo de alteração do ritmo cardíaco não estão a fazer anticoagulação, embora tenham indicação para receber este tratamento. Destes, 79% estão em elevado risco de sofrer um evento trombótico".</p> <p>Por outro lado, segundo os investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e do CINTESIS -- Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, entre os doentes sem indicação para receberem anticoagulantes (apenas 4,2% do total), verifica-se que 40% estão a fazer terapêutica desnecessariamente.</p> <p>Leia Também: <a href="https://www.noticiasaominuto.com/lifestyle/1785784/ma-nutricao-durante-a-gravidez-pode-levar-a-doencas-cardiacas-nos-filhos" target="_blank">Má nutrição durante a gravidez pode levar a doenças cardíacas nos filhos</a></p> <p>"Este estudo desperta a comunidade médica para uma realidade em que coexistem doentes com fibrilhação auricular subtratados e doentes sobretratados. Os subtratados carecem de otimização terapêutica para prevenção do acidente vascular cerebral (AVC). Os sobretratados estão a ser tratados desnecessariamente e sujeitos aos efeitos adversos desse tratamento", afirma, em comunicado, Carlos Martins, investigador da FMUP/CINTESIS e coordenador do estudo.</p> <p>Também Susana Pinto, primeira autora deste trabalho, sublinha que "esta informação é da maior importância porque os médicos devem ser proativos na prevenção do AVC em doentes com fibrilhação auricular", afirma.</p> <p>Como sublinham os autores, os doentes com esta arritmia têm cinco vezes mais risco de terem um AVC e representam 15% do total de casos de AVC.</p> <p>"O objetivo desta terapêutica é prevenir episódios de trombose em doentes de risco, seguindo o "score" CHA2 DS2 -- VASc", sustentam.</p> <p>De acordo com os dados hoje disponibilizados, um total de 63.526 doentes com fibrilhação auricular foram identificados no Norte de Portugal, dos quais 53% são mulheres, com idades compreendidas entre os 18 e os 107 anos (76,5 anos em média).</p> <p>"A esmagadora maioria (95,8%) tem indicação para fazer anticoagulação. Destes, cerca de 40% estão a ser medicados com fármacos como a varfarina (a mais prescrita), que obrigam a uma análise laboratorial periódica, e cerca de 60% com os novos anticoagulantes orais, que dispensam esse controlo", referem os investigadores.</p> <p>Segundo este trabalho, 3% dos portugueses com idade igual ou superior a 40 anos sofrem de fibrilhação auricular.</p> <p>Esta percentagem é pouco superior à registada em 2010, num estudo de prevalência na população portuguesa (2,5%).</p> <p>Entre as principais doenças associadas a esta arritmia, destaque para a hipertensão arterial, que coexiste em 77% dos casos, seguindo-se alterações no perfil lipídico (52%), diabetes (28%) e insuficiência cardíaca (27%).</p> <p>O estudo tem como autores Susana Silva Pinto (primeira autora), Andreia Teixeira, Teresa Henriques e Carlos Martins (FMUP/CINTESIS), bem como Hugo Monteiro, da Administração Regional de Saúde do Norte.</p>