Quando pensamos nos vulcões da Itália, podemos supor que o Etna, na Sicília, e o Vesúvio, que destruiu Pompeia, representam o maior perigo para a população e os turistas da península e suas ilhas.
<p>Mas eles são acompanhados de perto por outra ameaça: o Marsili, localizado cerca de 175 km ao sul de Nápoles.</p> <ul> <li><a href="https://www.bbc.com/portuguese/internacional-56529622">Drone captura imagens incríveis de vulcão em erupção na Islândia</a></li> <li><a href="https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-57946410">A ilha mediterrânea que surgiu 'do nada' e desapareceu em apenas 5 meses</a></li> </ul> <p>Com uma altura de 3 mil metros e uma base de 70 km de comprimento por 30 km de largura, o Marsili é um verdadeiro gigante. É o maior vulcão ativo de toda a Europa.</p> <p>Não se pode avistá-lo, contudo, já que seu cume fica 500 metros debaixo d'água, no mar Tirreno.</p> <p>Os cientistas sabem da existência de Marsili há um século, mas somente na última década começaram a investigar os perigos que ele pode representar — e as descobertas são preocupantes.</p> <p>De acordo com alguns modelos recentes, a atividade do vulcão poderia potencialmente desencadear um enorme tsunami, com uma onda de 30 metros de altura atingindo as costas da Calábria e da Sicília.</p> <p>Pior ainda, não haveria praticamente nenhum alerta de que o desastre é iminente — um fato que está levando alguns cientistas a fazerem apelos por novas tecnologias para monitorar os movimentos do Mediterrâneo.</p> <h2>Uma ameaça antiga</h2> <p>Em termos de tamanho, o Marsili não consegue competir com Tamu Massif, abaixo do noroeste do Oceano Pacífico, que tem cerca de 4.460 metros de altura e pode abrigar um complexo de vários vulcões separados.</p> <p>O Tamu Massif está extinto, no entanto, enquanto o Marsili segue ativo. Ele se encontra próximo da divisa das placas tectônicas da Eurásia e da África — cujo movimento resulta em intensa atividade geológica.</p> <p>É apenas um dos muitos vulcões em um arco ao longo da costa norte da Sicília e da costa oeste do sul da Itália.</p> <p>Alguns deles formaram massas de terra, as ilhas Eólias — Stromboli, Lipari, Salina, Filicudi, Alicudi, Panarea e Vulcano, que recebeu este nome por causa do deus romano do fogo, que deu origem à denominação de todas essas fissuras na crosta terrestre.</p> <p>E para cada uma dessas ilhas visíveis, dez vulcões se escondem sob as águas do mar.</p> <p>Segundo Guido Ventura, vulcanologista do Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia da Itália, Marsili nasceu há cerca de um milhão de anos.</p> <p>Ao longo dos milênios, chegou a acumular 80 cones vulcânicos, abrangendo desde o norte-nordeste até o sul-sudoeste, junto a várias fissuras e fraturas que poderiam liberar lava.</p> <p>Devido à sua profundidade sob as águas, esta potencial bomba-relógio à espreita no fundo do oceano do sul da Itália foi descoberta apenas 100 anos atrás.</p> <p>"Só no início do século 20 que as pessoas começaram a mapear as bacias marítimas", explica Ventura.</p> <p>Isso foi motivado, em parte, pelo uso cada vez maior de submarinos por militares e pelos novos sistemas de comunicação internacional, que exigiam a instalação de cabos telegráficos no fundo do mar.</p> <p><img alt="Fissuras vulcânicas submersas" src="https://ichef.bbci.co.uk/news/640/cpsprodpb/60CD/production/_120218742_foto_02.jpg" style="height:549px; width:412px" /></p> <p>CRÉDITO,GETTY IMAGES</p> <p>Legenda da foto,</p> <p>Embaixo d'água, próximo às Ilhas Eólias, fissuras vulcânicas borbulham gases que forçam sua passagem pela crosta terrestre</p> <p>Como resultado desses esforços, os cartógrafos finalmente identificaram o monte submarino na década de 1920.</p> <p>E deram seu nome em homenagem ao polímata Luigi Ferdinando Marsili (1658-1730), que, entre muitas outras realizações, escreveu o primeiro tratado sobre hidrografia.</p> <p>Se demoramos a ter conhecimento da existência da Marsili, a pesquisa científica sobre sua atividade é ainda mais recente — estudos detalhados apareceram apenas nos anos 2000.</p> <p>E, de acordo com suas descobertas, a última erupção do vulcão ocorreu há alguns milhares de anos.</p> <p>Hoje, sua atividade se limita a ruídos suaves, com emissões gasosas e tremores de baixa energia, diz Ventura.</p> <p>É claro que isso não impede um retorno mais dramático à vida no futuro; Marsili pode simplesmente estar adormecido.</p> <p>Se entrasse em erupção novamente, a lava e as cinzas produzidas pela explosão seriam absorvidas pelos 500 m de água acima do monte submarino; há pouco risco de que o "arroto" ardente chegue à terra ou prejudique as populações locais.</p> <p>"O perigo não é a erupção, mas os possíveis deslizamentos de terra subaquáticos", diz Ventura.</p> <p>Se os movimentos sísmicos prévios, ou a própria explosão, levassem ao desabamento de um de seus flancos, isso deslocaria um volume tão grande de água que provocaria um tsunami.</p> <h2>A devastação de Nápoles</h2> <p>Agora sabemos que deslizamentos subaquáticos do arco vulcânico eólico podem ter contribuído para tragédias passadas.</p> <p>Em 1343, por exemplo, o poeta Petrarca descreveu uma terrível tempestade marítima que devastou a Baía de Nápoles, causando centenas de mortes.</p> <p>Um estudo recente de Sara Levi, da Universidade Estadual de Nova York, nos EUA, e seus colegas sugere que isso pode ter sido o resultado de um tsunami, originado em Stromboli.</p> <p><img alt="Ilhas Eólias" src="https://ichef.bbci.co.uk/news/640/cpsprodpb/87DD/production/_120218743_foto_03.jpg" style="height:549px; width:976px" /></p> <p>CRÉDITO,GETTY IMAGES</p> <p>Legenda da foto,</p> <p>As Ilhas Eólias são formadas por uma cadeia de vulcões no mar Tirreno, ao norte da Sicília</p> <p>Analisando evidências arqueológicas do vulcão, a equipe encontrou evidências de um deslizamento de terra antigo, resultando em um tsunami que atingiu a costa da Calábria.</p> <p>Uma erupção mais recente em Stromboli, em 2002, deu origem a dois tsunamis. As ondas afetaram apenas a ilha em si, no entanto, sem chegar ao continente — e ninguém morreu.</p> <p>Infelizmente, ainda não podemos calcular a ameaça precisa de Marsili.</p> <p>"Simplesmente não temos dados suficientes", diz Glauco Gallotti, físico da Universidade de Bolonha, na Itália.</p> <p>Mas, segundo ele, há boas razões para pensar que pode representar uma ameaça.</p> <p>Por um lado, a atividade hidrotermal contínua pode ter enfraquecido as rochas do vulcão. Além disso, registros de microterremotos mostram que a lava ainda está turbulenta na câmara magmática, diz ele.</p> <p>Por ambas as razões, devemos levar esta possibilidade a sério com a realização de mais pesquisas.</p> <p>Em artigo publicado no início deste ano, a equipe de Gallotti considerou cinco cenários distintos, cada um analisando os efeitos de diferentes deslizamentos de terra possíveis.</p> <p>Nos primeiros casos, o deslocamento da água foi mínimo — levando a uma onda de apenas alguns centímetros de altura.</p> <p>Um desabamento no flanco noroeste, no entanto, provou ser mais sério — levando uma onda de 3-4 m de altura a atingir o sul da Campânia, e uma onda de 2-3 m a atingir a Calábria e a Sicília dentro de 30 minutos após o evento.</p> <p>É importante levar isso a sério, uma vez que uma "cicatriz" no monte submarino de Marsili sugere que um deslizamento de terra semelhante pode ter ocorrido no passado.</p> <p>"E pode ter gerado ondas entre 1m e 3m de altura", diz Gallotti.</p> <p>O pior cenário envolveu o colapso do cume centro-sul e do flanco oriental.</p> <p>De acordo com os cálculos de Gallotti, isso resultaria em uma onda de 20 m de altura atingindo a Sicília e a Calábria em 20 minutos.</p> <p>Mais pesquisas são necessárias para avaliar a probabilidade de que isso aconteça, ele destaca.</p> <p>"Mas [ainda] não podemos descartar a possibilidade."</p> <p>Se acontecer uma erupção, o custo humano pode depender da época do ano e se o tsunami chegar ou não na alta temporada do turismo.</p> <p>"O sul da Itália é bastante povoado no verão", observa Gallotti.</p> <p>Dada a elevação da costa da Itália, as pessoas devem estar seguras se estiverem a cerca de um quilômetro no interior, ele estima.</p>