E-Learning
  • Para Mais Informações!
  • +258 87 30 30 705 | 84 30 30 709
  • info@edu-tech-global.com
As ancas do camarada chefe? Sérgio Raimundo lança diário sobre a realidade de Moçambique

O escritor Sérgio Raimundo lançou, esta segunda-feira, na Cidade de Maputo, o seu mais recente livro de crónicas. Intitulado As ancas do camarada chefe, o título pretende ser um testemunho da realidade moçambicana.

<p>Primeiro, as pessoas. Muito provavelmente, o Cam&otilde;es &ndash; Centro Cultural Portugu&ecirc;s n&atilde;o faz ideia de quando &eacute; que teve de interromper a entrada de potenciais leitores &agrave; sua biblioteca, devido &agrave; lota&ccedil;&atilde;o mais do que esgotada. Esta segunda-feira, isso aconteceu. Afinal, jovens, senhores, velhos, artistas, jornalistas, acad&eacute;micos, pol&iacute;ticos ou p&uacute;blico em geral, segundo disseram alguns, l&aacute; foram ver as famosas&nbsp;<em>ancas do camarada chefe</em>.</p> <p>Como n&atilde;o &eacute; muito habitual em cerim&oacute;nias de lan&ccedil;amento de livros, em Mo&ccedil;ambique, muitos compraram o novo t&iacute;tulo do escritor que, nos &uacute;ltimos anos, vive entre Mo&ccedil;ambique e Portugal. Por isso mesmo, como se viu, a fila para os aut&oacute;grafos foi concorrida como&nbsp;<em>bichas&nbsp;</em>de p&atilde;o, de outros tempos, e a partir do lado de fora da biblioteca do Cam&otilde;es.</p> <p>Segundo, a expectativa. Que ancas, afinal? De que chefe? Em surdina, artistas e convidados expressavam sons quase inintelig&iacute;veis. Pois, ao mesmo tempo que desejam dizer, a vontade de ouvir era maior. Assim, apesar de a biblioteca do Cam&otilde;es ter estado cheia de gente, do lado do p&uacute;blico, o sil&ecirc;ncio sempre se imp&ocirc;s &agrave; apresenta&ccedil;&atilde;o de &Aacute;lvaro Carmo Vaz, que, na sua interven&ccedil;&atilde;o, se referiu ao poder criativo do escritor e &agrave; originalidade das suas cr&oacute;nicas, isto &eacute;, testemunhos da realidade mo&ccedil;ambicana. E real&ccedil;ou: &ldquo;Estas cr&oacute;nicas s&atilde;o imprescind&iacute;veis testemunhos deste nosso tempo, deste nosso Mo&ccedil;ambique. S&atilde;o textos que oscilam entre o dram&aacute;tico, o tr&aacute;gico e o infeliz. S&eacute;rgio Raimundo coloca no centro as pessoas. Com as mulheres, na sua luta di&aacute;ria, num plano primeiro que merece a nossa aten&ccedil;&atilde;o&rdquo;.</p> <p>O livro de S&eacute;rgio Raimundo foi lan&ccedil;ado h&aacute; dois meses em Portugal. No entanto, mal &ldquo;aterrou&ldquo; em Mo&ccedil;ambique, pol&eacute;mica. Tal situa&ccedil;&atilde;o valeu amea&ccedil;as de morte ao escritor, inclusive, expressas durante madrugadas.&nbsp;Sobre isso, &Aacute;lvaro Carmo Vaz referiu que Mo&ccedil;ambique n&atilde;o deve e n&atilde;o pode transformar-se num pa&iacute;s do medo e protestou contra amea&ccedil;as de, eventualmente, lambe-botas que criticaram o t&iacute;tulo do livro do escritor sem terem lido.</p> <p>As cerca de 60 cr&oacute;nicas de S&eacute;rgio Raimundo, nessas&nbsp;<em>Ancas do camarada chefe</em>, s&atilde;o curtas, constituindo 125 p&aacute;ginas. Com o livro, a esperan&ccedil;a de &Aacute;lvaro Carmo Vaz &eacute; que o registo que se vai fazendo do pa&iacute;s, atrav&eacute;s das cr&oacute;nicas, sirvam para que os mais jovens fiquem com ideias das viv&ecirc;ncias mo&ccedil;ambicanas.&nbsp;At&eacute; porque nessas&nbsp;<em>ancas do camarada chefe</em>&nbsp;se sentem cheiros de verdade a par da qualidade liter&aacute;ria do autor.</p> <p>Al&eacute;m do tema sobre as mulheres, que sofrem pelas suas e pelas dificuldades que s&atilde;o de todos, com viol&ecirc;ncia dom&eacute;stica e conformismo, S&eacute;rgio Raimundo explora, no seu novo livro, quest&otilde;es como dificuldades nos&nbsp;<em>chapas</em>, no atendimento e no tratamento m&eacute;dico nos hospitais p&uacute;blicos e ainda valoriza a import&acirc;ncia das m&atilde;es, qui&ccedil;&aacute;, as verdadeiras&nbsp;<em>camaradas chefes</em>.</p> <p>Entre algumas cr&oacute;nicas do livro, encontram-se as que o autor se refere a figuras hist&oacute;ricas mo&ccedil;ambicanas. Por exemplo, Marcelino dos Santos, Gra&ccedil;a Machel e Armando Guebuza.</p> <p>&nbsp;</p> <p><strong>S&eacute;rgio Raimundo: entre o nervosismo e a acutil&acirc;ncia</strong></p> <p>Depois de uma longa e bem acolhida apresenta&ccedil;&atilde;o do livro, feita por &Aacute;lvaro Carmo Vaz, chegou o momento de S&eacute;rgio Raimundo dizer algumas palavras de ocasi&atilde;o.</p> <p>A primeira coisa que o escritor fez foi contar um epis&oacute;dio engra&ccedil;ado, que lhe aconteceu nesta segunda-feira enquanto se deslocava &agrave; cerim&oacute;nia de lan&ccedil;amento. Mesmo em jeito de cr&oacute;nica, o autor contou que, gra&ccedil;as &agrave;s&nbsp;<em>ancas</em>, ele pr&oacute;prio se tornou chefe, no&nbsp;<em>chapa</em>, e, por isso, n&atilde;o s&oacute; teve o direito de se sentar &agrave; frente da&nbsp;<em>minibus,</em>&nbsp;bem como o cobrador dispensou-lhe de qualquer pagamento, pois reconheceu nele, igualmente, um&nbsp;<em>camarada chefe</em>.</p> <p>Assim, S&eacute;rgio Raimundo tentou disfar&ccedil;ar o nervosismo. Ao inv&eacute;s de falar propriamente do livro, diante de tantas pessoas que foram ver a cerim&oacute;nia, o autor preferiu apresentar mais uma cr&oacute;nica que, de facto, mereceu muitos sorrisos.</p> <p>N&atilde;o tendo dito o que os jornalistas queriam ouvir, a parte da pol&eacute;mica que bem alimenta certos jornais, houve uma disputa feroz para entrevistar o escritor que, pela audi&ecirc;ncia, confessou estar a sentir-se como Cristiano Ronaldo. Os f&atilde;s de Lionel Messi ou de Dominguez parece que n&atilde;o gostaram da compara&ccedil;&atilde;o. Com o microfone na m&atilde;o, desviaram o escritor do futebol, que o foco era outro: a pol&eacute;mica, as amea&ccedil;as, a morte. Ent&atilde;o, a partir da&iacute;, n&atilde;o se ouviu muito do livro em si, mas de coisas como liberdade de express&atilde;o, medo e etc..</p> <p>Ainda assim, S&eacute;rgio Raimundo, primeiro, confessou que, apesar de n&atilde;o ser o seu primeiro livro, sentia alguma responsabilidade por estar a lan&ccedil;ar&nbsp;<em>As ancas do camarada chefe</em>. De seguida, clarificou: &ldquo;Este livro, no fundo, &eacute; um di&aacute;rio sobre a realidade de Mo&ccedil;ambique e sobre perip&eacute;cias que se passam aqui em Mo&ccedil;ambique&rdquo;.</p> <p>J&aacute; mergulhado no tema pol&eacute;mica, S&eacute;rgio lembrou-se do seu lado Militar. A&iacute;, sim, foi mais acutilante nas respostas. &ldquo;Eu acho que um artista deve fazer arte. A arte &eacute; aquilo que movimenta, que cria convuls&atilde;o. Eu n&atilde;o fa&ccedil;o artesanato. O artesanato &eacute; que n&atilde;o nos remete ao pensamento. Sobre as pol&eacute;micas? Eu fiquei totalmente surpreendido porque se levantou sobre um livro que ainda n&atilde;o tinha sido lan&ccedil;ado. Eu achei isso incr&iacute;vel porque o livro ainda n&atilde;o tinha sido lan&ccedil;ado e j&aacute; havia quem sabia do seu conte&uacute;do. E outra coisa, eu responsabilizo-me por aquilo que escrevo e n&atilde;o por aquilo que as pessoas entendem que eu escrevi. Eu escrevi um livro e os outros escreveram um livro sobre aquilo que eu escrevi. E esse livro a mim n&atilde;o me pertence. O livro que eu escrevi &eacute; este que foi apresentado hoje,&nbsp;<em>As ancas do camarada chefe.</em>&rdquo;</p> <p>J&aacute; tenso, a imprensa quis saber o que o escritor sofreu, de concreto, em termos de amea&ccedil;as. S&eacute;rgio Raimundo respondeu dizendo que &ldquo;Deram-me uma escolha. &lsquo;Queres que circule o teu livro ou ent&atilde;o tu? Voc&ecirc;s os dois n&atilde;o podem circular&rsquo;. Eu fiquei de rastos e tive dias dif&iacute;ceis porque muita gente ligada &agrave; minha fam&iacute;lia era amea&ccedil;ada. Eu tenho vindo a Mo&ccedil;ambique de seis em seis meses. Quando vim, ano passado, vi uma esp&eacute;cie de ignor&acirc;ncia. Eu vi que aqui, em Mo&ccedil;ambique, a ignor&acirc;ncia era extrema. Mas, com isto que aconteceu comigo, eu vi que da ignor&acirc;ncia n&oacute;s sa&iacute;mos para estupidez. Porque o meu livro foi julgado tendo em conta o t&iacute;tulo. S&oacute; isso&rdquo;.</p> <p>Antes de terminar a s&eacute;rie de respostas dadas aos jornalistas, S&eacute;rgio Raimundo, que colabora com a imprensa mo&ccedil;ambicana e portuguesa, disse que n&atilde;o entende a raz&atilde;o das amea&ccedil;as, apenas que certas pessoas se precipitaram a fazer uma analogia do t&iacute;tulo do seu livro com o que ele n&atilde;o sabe. &ldquo;Estou feliz porque o meu t&iacute;tulo acabou por ser um motor de criatividade para as pessoas. Por cima do meu t&iacute;tulo, foram escritos v&aacute;rios t&iacute;tulos que era bom que fossem publicados tamb&eacute;m&rdquo;.</p> <p>Na sequ&ecirc;ncia disso, os jornalistas tiveram de interromper a entrevista ao escritor porque o p&uacute;blico, entre empurr&otilde;es, disputava o primeiro lugar na fila de aut&oacute;grafos, que n&atilde;o era&nbsp;<em>bicha</em>&nbsp;de p&atilde;o de outros tempos.</p> <p>Fonte:&nbsp;https://opais.co.mz/as-ancas-do-camarada-chefe-sergio-raimundo-lanca-diario-sobre-a-realidade-de-mocambique/</p> <p>&nbsp;</p> <p>&nbsp;</p>

Tags:
Partilhar: