O motivo da minha afirmação não é porque duvido da capacidade superquântica, humanamente impossível de se compreender em níveis profundos, que uma máquina pode desenvolver. Falo isso porque, ainda que as máquinas dominem o planeta, os seres humanos vão ser os responsáveis por fazer essa conquista acontecer. Então, de uma forma ou de outra, seremos nós os dominantes, o que cobra um posicionamento crítico. Por que abrimos mão dele?
Acredito que o medo distópico da dominação robótica soe real pelo valor que damos aos números. Robôs são matemática, não há por que contestar. No entanto, parece que, constantemente, perdemos de vista que essa área é mais uma das várias formas de organização do mundo. Tanto deixamos isso de lado que chegamos a afirmar, de forma categórica, que os números não mentem. Como se estivessem postos por si só, sem nenhuma intervenção humana.
Mas se eles são a leitura de uma realidade objetivamente criada, os números também são subjetivamente construídos. É necessário, então, recobrar essa visão. E não precisamos ter medo de que um pensamento humano passe por cima de um exato — afinal, os dois são ciência. Não da mesma forma, mas com a mesma importância. Quanto mais robôs ganham o mundo, mais temos a necessidade de discutir ética. Quanto mais dados são criados, mais precisamos entender como eles modificam a realidade.
Números não são e não podem ser entendidos como frios. É preciso enfrentar essa dureza que colocamos em cima dos algarismos arábicos. Os zeros, os uns, os 50 mil, os 1.150.000, todos eles necessitam de um olhar responsável, principalmente, quando usamos cada um para tomar decisões. Estamos sempre prontos para usar os dados como endosso dos nossos vieses, mas receamos criticá-los para que eles não nos mostrem algo que não queremos ver — por ignorância, ingenuidade ou, sejamos sinceros, por hipocrisia.
Não cabe humanidade aos números, essa responsabilidade é só nossa. Se deixarmos que os dígitos façam escolhas por nós, entregaremos a dominação do mundo não aos robôs, mas a humanos com decisões abjetas.
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