A jovem do Cuando Cubango esteve como refugiada na Zâmbia e com a família viajou para o Kikolo, em Luanda, passou fome, vendeu nos mercados e nunca desistiu de vencer
<p>Ana Kupia Ndumbo Chipipa nasceu do dia 21 de Outubro de 1990, em terras do Cuando Cubango. É filha de José Ndumbo Chipipa e de Margarida Chatulonã. "Sou estudante universitária na Universidade Lusíadas, onde frequento o 1º ano do curso de Psicologia, e sou professora de profissão, ministrando o 1º ciclo, e Assistente Social”, apresenta-se. </p> <p>Quando tinha 8 ou 9 anos, recorda, devido ao conflito armado, os pais e os rmãos mais velhos viram-se forçados a deixar o país, em 2000, deslocando-se para a República da Zâmbia, mais propriamente para o Campo dos Refugiados do Nangweshi. </p> <p>"Aí fiz uma parte do meu ensino primário. Foi na Zâmbia onde aprendi a amar o próximo, ter empatia com o próximo e ajudar os necessitados”, recorda, para acrescentar: "Em 2002 fui à Itália a convite do cantor Luciano Pavarotti, isto é, para assistir a um concerto musical que se realizou no dia 28 de Maio”. </p> <p>Em 2004 a família regressa a Angola e viaja para Luanda, instalando-se em Cacuaco, no Bairro da Boa Esperança-Kikolo, onde ela dá sequência aos estudos, até concluir o ensino médio, em 2010. </p> <p>"Durante a vida, tivemos muitas dificuldades, cada um de nós, irmãos, foi encarando de uma maneira diferente, eu, sem experiência nenhuma, mesmo antes de concluir o ensino médio”, sublinha a jovem, que continua "não me consigo lembrar muito da juventude, porque engravidei muito nova e este foi um dos meus maiores desafios na altura, em 2008, o meu foco virou-se completamente para o filho que esperava, o que foi um desastre para mim porque pensei que seria o fim, porque os meus pais enfrentavam muitas dificuldades para nos sustentar”. </p> <p>A gravidez, lembra, foi muito dura. "Principalmente para os meus pais, porque eu não tive ajuda do progenitor da minha filha e os meus pais ficaram muito preocupados, pensado que seria o meu fim, ou seja, que eu não seria capaz de dar a volta à situação, porque o meio onde eu estava inserida era muito complicado para sobreviver”. </p> <p>As opções apresentadas foram: casamento imediato, ir para a venda nas ruas ou para a prostituição. "O meio em que eu vivia tinha e tem ainda um índice elevado de pobreza, os jovens, muitas meninas como eu, pensávamos que a única saída era engravidar e viver com o parceiro e a preocupação dos meus pais era essa. Eu via a tristeza nos olhos deles, mas isto não me fez pensar em formas negativas de sobrevivência, eu dizia a mim mesma que faria diferente, dando a volta à situação”. </p> <p>Ana Kupia Ndumbo Chipipa diz que, desde muito pequena, sonhava grande e foi preciso ter muita fé e ser resiliente para não desistir. "Eu nunca gostei de viver mal, mesmo grávida e sem o apoio do pai da criança, não podia desistir de mim nem do filho que esperava”.</p> <p>Em 2008, prossegue, para poder nos sustentar, eu e os meus irmãos tivemos de vender peneiras, sacos de pães, pegas e água fresca, no mercado do Kikolo, da Estalagem e noutros, para, no dia seguinte, termos alguma comida ou roupa para irmos à escola.</p> <p>Isso entristecia Ana Kupia Ndumbo Chipipa, que se sentia na obrigação de trabalhar duro para melhorar um pouco as condições de vida da família. "Quando a minha filha nasceu, foi pior, pois eu chorava todos os dias e pedia a Deus uma melhor direcção para poder prosseguir e comprar fraldas. Tive muitas vezes de andar pelas ruas à procura de trabalho sem oportunidade de escolha, o que aparecia eu fazia, já trabalhei em barracas de comida, para poder ganhar cinco mil kwanzas por mês”. </p> <p>A infância de Ana Kupia Ndumbo Chipipa, diz, "não foi das melhores, mas como qualquer criança, na Zâmbia, brincávamos na lama e fazíamos bonecos de barro e eu muito apaixonada por artes marciais e pelo futebol. Um dos meus sonhos era ser militar”. Mas nada disso se concretizou. "Outro sonho era ter muito para poder ajudar os necessitados. Este é um projecto que ainda tenho, mas nunca desisti dos meus sonhos e objectivos”. </p> <p>A jovem conta que tudo o que conseguiu é fruto de muito trabalho, determinação, foco e persistência. "Os meus pais foram os alicerces do nosso crescimento, pese embora não termos nada na época, eles fizeram de tudo para que cada um de nós terminasse, pelo menos, o ensino médio, para não passarmos fome. A minha mãe cozinhava arroz doce com fuba em vez de leite e nós comíamos e no dia seguinte ir vender para poder sobreviver”. </p> <p>Hoje o foco e objectivos de Ana Kupia Ndumbo Chipipa estão virados para ações sociais e, com base na sua vivência, surgiu a necessidade de escrever um livro de auto-ajuda para as mulheres. "Eu sinto que devo servir de inspiração para outras pessoas, sinto a necessidade de levantar outras pessoas”. </p> <p>Entre 2014 e 2017, Ana Kupia Ndumbo Chipipa trabalhou como secretária assistente principal do presidente da CASA-CE, na altura Abel Epalanga Chivukuvuku. "Trabalhei durante quatro anos numa ONG denominada JRS - Jesuit Refugee Service, sou co-fundadora de uma assossiação denominada ACAA - Assosciação Caminhemos Adiante Angola e, actualmente, sou professora, trabalho no Ministério da Educação, e coordenadora de gestão do SINPROF, no munícipio do Pango-Aluquém/Bengo. </p> <p>"Independentemente de tudo o que estiver a passar, não desista e em cada problema encontre sempre uma oportunidade para vencer, porque na jornada da vida nem tudo é um mar de rosas, existem espinhos e buracos negros, cabe a nós definirmos qual é a posição certa”, concluiu.</p> <p> </p> <p>Fonte: https://www.jornaldeangola.ao/ao/noticias/uma-professora-que-pensa-sempre-em-ajudar-o-proximo/</p>