E-Learning
  • Para Mais Informações!
  • +258 87 30 30 705 | 84 63 21 734
  • info@edu-tech-global.com
Um conflito ideológico na escola rural angolana

Que o ano de 2024 traga novos ventos a favor do (re) pensar das políticas públicas-linguísticas-educativas de modos a se alcançar uma sociedade mais equitativa, mais democrática

<p>&nbsp;A escola contempor&acirc;nea angolana precisa de se abrir &agrave; diversidade lingu&iacute;stica do pa&iacute;s, aceitar a presen&ccedil;a do outro e cham&aacute;-lo para dentro da escola, o que pressup&otilde;e legitimar a sua l&iacute;ngua, suas pr&aacute;ticas, a sua vis&atilde;o de mundo, suas cren&ccedil;as</p> <p>J&aacute; leva cerca de cinco anos que venho a discutir quest&otilde;es sobre o ensino em contexto rural. Essa preocupa&ccedil;&atilde;o deveu-se ao facto de sentir o meio rural &oacute;rf&atilde;o de pesquisas, sen&atilde;o mesmo silenciado e invisibilizado pelas pol&iacute;ticas p&uacute;blicas&nbsp;&nbsp;educativas. E durante esta lida, fomos compreendendo os (des) lugares que ocupam as escolas nesse contexto. No esp&iacute;rito de um intelectual org&acirc;nico, um conceito criado por Gramsci para descrever o intelectual preocupado com a sua classe social e servindo de porta-voz daqueles que sem voz, sem vez, sem oportunidade, os silenciados, ergam ilhas no vazio.</p> <p>Passam dias, passam semanas, passam meses, passam anos, mas os problemas do ensino em escolas rurais angolanas continuam est&aacute;ticos, sem merecer uma aten&ccedil;&atilde;o da parte de quem de direito. Pressupomos que existam v&aacute;rias formas de prestar aten&ccedil;&atilde;o, o que, para n&oacute;s, pode significar nada, na medida em que os problemas dessas escolas se multiplicam sem um olhar devido. H&aacute; mesmo escolas em contexto rural que chegam a fechar como nos relata o estudo de Bernardo (2022) intitulado &quot;Da l&iacute;ngua e outras coisas mais na escola rural: um diagn&oacute;stico da situa&ccedil;&atilde;o em Ngunda/Bi&eacute;&rdquo;, o que exige o (re) pensar do estatuto das l&iacute;nguas nacionais, a descentraliza&ccedil;&atilde;o das pol&iacute;ticas p&uacute;blicas lingu&iacute;sticas e educativas,&nbsp;&nbsp;a descentraliza&ccedil;&atilde;o do curr&iacute;culo e do calend&aacute;rio acad&eacute;mico.&nbsp;</p> <p>Um dos grandes problemas que trago hoje para a nossa reflex&atilde;o prende-se &agrave; participa&ccedil;&atilde;o dos pais na forma&ccedil;&atilde;o de seus educandos, uma vez que a pol&iacute;tica lingu&iacute;stica de que o nosso ensino se sustenta est&aacute; assente no portugu&ecirc;s como a l&iacute;ngua de ensino, como se pode depreender da Lei de Bases do Sistema de Educa&ccedil;&atilde;o e Ensino 32/20. Lei esta que acaba por negligenciar o cen&aacute;rio lingu&iacute;stico do pa&iacute;s, a diversidade lingu&iacute;stica. Essa realidade, dita de forma descoberta leva a que muitos alunos vejam a escola como o lugar menos atraente para estar, n&atilde;o s&oacute; pela pol&iacute;tica lingu&iacute;stica imposta nessa realidade, mas tamb&eacute;m pelo facto de terem um plano curricular menos atraente para essas comunidades.</p> <p>O cen&aacute;rio descrito pode cogitar-nos a reflectir sobre quest&otilde;es de conflitos pol&iacute;tico-ideol&oacute;gicos na escola angolana. Entendemos conflito pol&iacute;tico-ideol&oacute;gico como as ac&ccedil;&otilde;es que visam nada mais do que polarizar outros, criando dessa forma a elite e o proletariado. Por&eacute;m essa polariza&ccedil;&atilde;o promove conflitos. Aqui faremos men&ccedil;&atilde;o apenas ao intergrupal, que se refere a diverg&ecirc;ncias ou discord&acirc;ncias entre os membros ou representantes de dois ou mais grupos, quanto &agrave; autoridade, &agrave;s metas, aos territ&oacute;rios ou recursos. E agora, existem conflitos pol&iacute;tico-ideol&oacute;gicos que permeiam a escola rural em Angola?</p> <p>A escola tem sido um espa&ccedil;o de disputas sociais, o que promove, em certa medida, conflitos pol&iacute;tico-ideol&oacute;gicos muitas vezes pela manuten&ccedil;&atilde;o do status quo, quanto pelo enfrentamento &agrave; hegemonia. Por exemplo, algumas das ac&ccedil;&otilde;es praticadas pelo Estado,que t&ecirc;m passado para muitos de forma invis&iacute;vel, tem que ver com as pol&iacute;ticas lingu&iacute;sticas voltadas a homogeneiza&ccedil;&atilde;o lingu&iacute;stica, constituindo um perigo mortal para o desenvolvimento do pa&iacute;s. Essa actua&ccedil;&atilde;o do Estado promove o silenciamento de alunos, pais e ou encarregados de educa&ccedil;&atilde;o, visto que Angola &eacute; um pa&iacute;s de diversidade lingu&iacute;stica e os pais veem-se impossibilitados de ajudar os filhos a resolver as tarefas escolares por falta de dom&iacute;nio da l&iacute;ngua portuguesa, a l&iacute;ngua de ensino. Outra ac&ccedil;&atilde;o, n&atilde;o menos importante, que tem provocado conflito em escolas rurais tem a ver com a urbaniza&ccedil;&atilde;o da escola, isto &eacute;, a escola n&atilde;o quer reconhecer as pr&aacute;ticas, os saberes das comunidades, o que vem a influenciar grandemente na evas&atilde;o e abandono escolar.</p> <p>Os cen&aacute;rios descritos acima se encaminham a uma ideologia do capitalismo que influencia grandemente os discursos propalados segundo os quais os alunos de escolas rurais n&atilde;o sabem ler, s&atilde;o burros, n&atilde;o sabem fazer c&aacute;lculos e, algumas vezes, as culpas s&atilde;o atribu&iacute;das aos professores que t&ecirc;m a dura tarefa de trabalhar em localidades em que a l&iacute;ngua de dom&iacute;nio n&atilde;o &eacute; o portugu&ecirc;s, tornando-os desobedientes, algumas vezes, &agrave; pol&iacute;tica lingu&iacute;stica vigente. Levanta-se tamb&eacute;m uma cr&iacute;tica &agrave; concep&ccedil;&atilde;o de escola que se tem, pois a sua generaliza&ccedil;&atilde;o, ou melhor, nacionaliza&ccedil;&atilde;o leva a que se tenha um modelo que acaba por n&atilde;o responder &agrave;s necessidades e &agrave;s realidades do pa&iacute;s.</p> <p>Desse modo, enfrentamos, pois, uma crise da escola em realidade rural ao instrumentalizar o aluno a servi&ccedil;o do capitalismo, levando com que a sua l&iacute;ngua e as suas pr&aacute;ticas sejam deslegitimadas pela doutrina de escola que perde de vista o qu&atilde;o a escola contribui na resolu&ccedil;&atilde;o de problemas sociais, econ&oacute;micos, pol&iacute;ticos e culturais. Fica evidente que embora o Estado naturalize as ideologias hegem&oacute;nicas &eacute; not&oacute;rio o fracasso do ensino em escolas rurais sendo motivado por quest&otilde;es de conflitos pol&iacute;tico-ideol&oacute;gicos que tomam o espa&ccedil;o e relegam a parceria que deve existir entre a fam&iacute;lia e a escola, interferindo no pleno desenvolvimento cognitivo, psicol&oacute;gico, social e cultural da crian&ccedil;a.</p> <p>Que o ano de 2024 traga novos ventos a favor do (re)pensar das pol&iacute;ticas p&uacute;blicas-lingu&iacute;sticas-educativas de modos a se alcan&ccedil;ar uma sociedade mais equitativa, mais democr&aacute;tica. A escola contempor&acirc;nea angolana deprecisa se abrir &agrave; diversidade lingu&iacute;stica do pa&iacute;s, aceitar a presen&ccedil;a do outro e cham&aacute;-lo para dentro da escola, o que pressup&otilde;e legitimar a sua l&iacute;ngua, suas pr&aacute;ticas, a sua vis&atilde;o de mundo, suas cren&ccedil;as, visto que o conservadorismo euroc&ecirc;ntrico n&atilde;o responde &agrave; realidade.&nbsp;&nbsp;&nbsp;Entretanto, as comunidades precisam sentir que a escola acolhe as suas demandas para que o ensino n&atilde;o seja visto como &uacute;nica e exclusivamente responsabilidade da escola. A pol&iacute;tica-ideol&oacute;gica da escola n&atilde;o pode ser em favor das assimetrias.&nbsp;</p> <p>&nbsp;</p> <p>Fonte:&nbsp;https://www.jornaldeangola.ao/ao/noticias/um-conflito-ideologico-na-escola-rural-angolana/</p>

Tags:
Partilhar: