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Santa Comba Dão não desiste do Centro Interpretativo do Estado Novo

Meio século após o fim do Estado Novo, em Santa Comba Dão prepara-se a criação de um centro interpretativo deste período da história portuguesa, mas o projeto está envolto em polémica e ensombrado pelo receio de que 'ressuscite' o fascismo.

<p>Ant&oacute;nio Oliveira Salazar, figura maior do Estado Novo, nasceu no Vimieiro, no concelho de Santa Comba D&atilde;o, distrito de Viseu.</p> <p>&nbsp;</p> <p>H&aacute; cerca de 17 anos que os executivos camar&aacute;rios -- primeiro liderados pelo social-democrata Jo&atilde;o Louren&ccedil;o e depois pelo socialista Leonel Gouveia -- falam do projeto, argumentando que seria uma forma de alavancar o desenvolvimento tur&iacute;stico.</p> <p>&quot;Se este projeto tivesse tido iniciativa em outro local, nomeadamente em Lisboa, provavelmente j&aacute; estava feito. Mas como &eacute; em Santa Comba D&atilde;o parece-me que existem constantemente for&ccedil;as a tentar bloque&aacute;-lo&quot;, disse &agrave; ag&ecirc;ncia Lusa Ant&oacute;nio Jos&eacute; Correia, que foi vice-presidente de Jo&atilde;o Louren&ccedil;o e &eacute; atualmente vereador da oposi&ccedil;&atilde;o PSD/CDS-PP.</p> <p>H&aacute; tamb&eacute;m &quot;falta de determina&ccedil;&atilde;o e de for&ccedil;a pol&iacute;tica para o implementar&quot;, disse aquele vereador, lembrando que Leonel Gouveia tinha anunciado a abertura da primeira fase do Centro Interpretativo do Estado Novo (CIEN) para maio de 2023, o que at&eacute; hoje n&atilde;o aconteceu.</p> <p>Leonel Gouveia escusou-se a prestar declara&ccedil;&otilde;es &agrave; Lusa, mas, em mar&ccedil;o de 2023, tinha dito que queria ter o contributo dos mun&iacute;cipes e dos visitantes para o projeto final do CIEN, que surgir&aacute; na Escola Cantina Salazar, um edif&iacute;cio dos anos 40 do s&eacute;culo XX, situado no Vimieiro.</p> <p>&quot;Pretendemos, por um lado, dar a conhecer o edif&iacute;cio da escola, que s&oacute; por si tem valor hist&oacute;rico e, por outro, colocar a sufr&aacute;gio dos visitantes e dos mun&iacute;cipes um projeto que foi trabalhado e validado&quot;, explicou, na altura.</p> <p>Apesar das cr&iacute;ticas &agrave; autarquia por querer usar um ditador para promover o concelho, durante estes anos o projeto passou por v&aacute;rias fases, tendo mesmo integrado uma rede de centros interpretativos ligados &agrave; hist&oacute;ria e &agrave; mem&oacute;ria pol&iacute;tica da primeira Rep&uacute;blica e do Estado Novo, que n&atilde;o teve continuidade.</p> <p>Ant&oacute;nio Jos&eacute; Correia frisou que &quot;este &eacute; um projeto estrat&eacute;gico para Santa Comba D&atilde;o&quot; e, apesar de ter algumas diferen&ccedil;as relativamente ao que foi pensado nos mandatos de Jo&atilde;o Louren&ccedil;o, a oposi&ccedil;&atilde;o apoia Leonel Gouveia.</p> <p>&quot;N&atilde;o temos nada a opor, bem pelo contr&aacute;rio. N&oacute;s j&aacute; dissemos variad&iacute;ssimas vezes que estamos ao lado do senhor presidente para implementar este projeto&quot;, garantiu.</p> <p>O tamb&eacute;m presidente da concelhia do PSD lembrou que o Estado Novo foi &quot;um per&iacute;odo marcante da hist&oacute;ria&quot; de Portugal e que um projeto que o retrate &quot;deve ser desenvolvido em Santa Comba D&atilde;o&quot;.</p> <p>Opini&atilde;o diferente tem a Uni&atilde;o de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP), que j&aacute; apresentou duas peti&ccedil;&otilde;es na Assembleia da Rep&uacute;blica contra o projeto: em 2009, com 16 mil assinaturas, e em 2020, com 11 mil assinaturas.</p> <p>&quot;Na maioria dos pa&iacute;ses europeus que passaram pelo nazismo e pelo fascismo, pelas ditaduras, a mem&oacute;ria hist&oacute;rica - que &eacute; o que est&aacute; em causa, pelo menos para a URAP - n&atilde;o &eacute; feita do lado de quem promoveu a ditadura, &eacute; feita do lado das v&iacute;timas&quot;, disse &agrave; Lusa Ant&oacute;nio Vilarigues.</p> <p>Este membro do conselho diretivo da URAP sublinhou que a mem&oacute;ria hist&oacute;rica &quot;n&atilde;o &eacute; feita do lado dos algozes, mas de quem sofreu a tortura&quot;, apontando como exemplo os campos de concentra&ccedil;&atilde;o da Alemanha.</p> <p>Ant&oacute;nio Jos&eacute; Correia esclareceu que, quer no passado, quer agora, o que se pretende implementar em Santa Comba D&atilde;o &eacute; &quot;um centro interpretativo em que cada um analise todo o per&iacute;odo do Estado Novo nas suas mais diversas vertentes - pol&iacute;tica, econ&oacute;mica e social - para que, de forma distanciada e livre, possa fazer a sua interpreta&ccedil;&atilde;o&quot;.</p> <p>&quot;N&atilde;o &eacute; para demonizar, n&atilde;o &eacute; para exaltar nada, &eacute; para fazer uma leitura de uma forma isenta&quot;, real&ccedil;ou, acrescentando que, para tal, o projeto dever&aacute; ter &quot;uma forte sustentabilidade cient&iacute;fica&quot;.</p> <p>&quot;Devia ter sido j&aacute; criada h&aacute; muito tempo uma comiss&atilde;o cient&iacute;fica que pudesse balizar aquilo que seria o Centro Interpretativo do Estado Novo para, depois disso, haver a decis&atilde;o pol&iacute;tica de o implementar, de uma forma bem comunicada, para quebrarmos de vez este estigma que come&ccedil;a a existir sobre a sua constru&ccedil;&atilde;o&quot;, acrescentou.</p> <p>Para a URAP, a hist&oacute;ria deve ser explicada atrav&eacute;s de &quot;museus que reflitam a resist&ecirc;ncia, as v&iacute;timas&quot;, como acontecer&aacute;, por exemplo, em projetos de Lisboa, Peniche e Porto.</p> <p>Ant&oacute;nio Vilarigues frisou que o acervo que tem interesse cient&iacute;fico est&aacute; na Torre do Tombo e que em Santa Comba D&atilde;o apenas existe &quot;o restaurador Olex e a cama do Salazar&quot;.</p> <p>Alberto Andrade, do Conselho Nacional da URAP, considerou que quer os executivos liderados por Jo&atilde;o Louren&ccedil;o, quer por Leonel Gouveia, pretendem &quot;pintar de azul um quadro negro&quot; da hist&oacute;ria de Portugal.</p> <p>&quot;Com tanto que o concelho tem para desenvolver, &eacute; com o museu que ele quer fazer uma atra&ccedil;&atilde;o tur&iacute;stica, chamar &#39;skinheads&#39;, chamar neonazis?&quot;, perguntou.</p> <p>A poucos metros do edif&iacute;cio da c&acirc;mara vive Ant&oacute;nio Cordeiro, que est&aacute; prestes a completar 89 anos e que gostaria de conseguir ver o centro interpretativo a funcionar, ainda que a hist&oacute;ria tenha &quot;coisas boas e outras menos boas&quot;.</p> <p>&quot;A pol&iacute;tica &eacute; um pouco isto, nem todos ter&atilde;o certamente s&oacute; a dizer coisas boas de Salazar. Foi um ditador, logo a&iacute; perde. Os ditadores, n&atilde;o os queremos&quot;, frisou o idoso, acrescentando que, no entanto, pelo movimento que o projeto daria ao concelho, &quot;tem o apoio da maioria das pessoas&quot; da terra.</p> <p>Fernando Dur&atilde;es, de 76 anos, n&atilde;o arriscou uma percentagem t&atilde;o elevada, considerando que s&oacute; cerca de 50% dos mun&iacute;cipes gostariam de ver nascer o CIEN no Vimieiro.</p> <p>Na sua opini&atilde;o, &quot;a pol&eacute;mica &eacute; s&oacute; para quem quer entender dessa maneira&quot;.</p> <p>&quot;Na nossa autarquia j&aacute; l&aacute; estiveram de v&aacute;rias cores, todos respeitaram isto e porque &eacute; que n&atilde;o havemos de continuar a respeitar?&quot;, questionou Fernando Dur&atilde;es, depois de beber a sua bica num caf&eacute; situado no Largo Dr. Salazar.</p> <p>&nbsp;</p> <p>Leia Tamb&eacute;m:&nbsp;<a href="https://www.noticiasaominuto.com/pais/2536853/civis-da-figueira-ajudaram-operacoes-militares-para-derrubar-ditadura" target="_blank">Civis da Figueira ajudaram opera&ccedil;&otilde;es militares para derrubar ditadura</a></p>

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