O linguista moçambicano Bento Sitoe considerou, quinta-feira, o escritor como um tradutor da realidade vivida, ao dissertar o tema “Traduzimos o quê, para quem e para quê?”, na última edição das Conversas da Academia à Quinta-feira
Dissertando na presença de académicos de Angola, Arábia Saudita, Bélgica, Brasil, Cabo Verde, Espanha, Moçambique e Portugal, sob moderação do sociólogo José Octávio Van-Dúnem, o conferencista começou por dizer que, em Moçambique, 85% da população fala línguas bantu, 47% de moçambicanos falam português como língua segunda e 10% têm no português a sua língua materna. Ao abordar a tradução de textos, o Professor jubilado da Universidade Eduardo Mondlane, que marcou assim o seu ingresso como membro correspondente da Academia Angolana de Letras, disse que a tradução é um desafio, pois consiste em “extrair o sentido de um texto e reproduzi-lo fielmente no texto de uma outra língua, o que pressupõe também a adaptação ao contexto cultural da língua de destino”. O primeiro passo para uma boa tradução é entender a mensagem original e o segundo passo é saber fazer o paralelismo entre os dois contextos. Bento Sitoe referiu a sua experiência enquanto tradutor da Bíblia e enquanto tradutor da Constituição moçambicana para a língua Changana. Deu conta que, para vencer tais empreitadas, recorreu a um grupo de falantes de Changana que falam também Português, cujo auxílio foi fundamental, ao ponto de considerar esse grupo como o “seu Google”. Enquanto escritor, Bento Sitoe é autor de três novelas em Changana. Uma delas, intitulada “Zabela”, que foi traduzida por outra pessoa para português, foi utilizada para justificar a necessidade de o tradutor conseguir enraizar-se culturalmente no enredo e na trama do texto. Na próxima Conversa da Academia à Quinta-feira, agendada para o dia 5 de Dezembro, às 19h00, sob moderação da pedagoga Jurema Gando, o cineasta Ery Claver abordará o tema “Cinema angolano na voz de um cineasta da nova geração”.