Pelo menos oito escolas secundárias da província de Maputo não realizaram, hoje, os exames finais, porque os professores estão em greve. A classe docente exige o pagamento de horas extras de 2022, 23 e 24.
Nos corredores de algumas escolas, ouviam-se os alunos alunos que, sem poderem realizar os exames, cantam em solidariedade aos professores… E a classe docente, também, lança o seu grito de socorro e escreve em dísticos, as suas reivindicações. A principal exigência dos professores é o pagamento de horas extraordinárias. “Desde 2023. Agora estamos em 2024. Não tivemos nenhuma satisfação sobre o pagamento de horas extraordinárias. Mandaram-nos beber água e já o fizemos. Até agora, nenhuma satisfação sobre horas extras”, reclamou Óscar Muchanga, professor da Escola Unidade “2”, na Cidade de Maputo. E os professores dizem que já canalizaram as suas preocupações ao Governo, mas foram ignorados. “Já tivemos reunião com a direção da escola e a direção distrital, esta última, chegou a vir até à escola, mas a única coisa que eles conseguem dizer é que devemos ter paciência. Esse Governo não nos respeita. Então, nós estamos a fazer a nossa parte. Cabe à direção da escola e às instâncias superiores procurarem uma resposta para esta situação”, revelou Marta Fátima, professora da Escola Secundária da Liberdade. Porque não viram as suas preocupações respondidas, os docentes partiram para o boicote dos exames finais da décima e décima segunda classes. “Segundo o calendário dos exames para a décima classe, devia haver a realização de exames de Biologia e Português. Tivemos a presença de alunos nas salas de aula, mas os professores não estavam lá para garantir a realização das avaliações”, referiu João Mário, professor da Escola Secundária da Liberdade. Para enfraquecer a sua manifestação, os professores denunciam o uso de pessoal não docente para controlar os exames. “Pediram aos vizinhos para controlarem os exames. Deram-lhes batas para o efeito. Nós, os professores, há 10 anos que não somos dados batas na escola para darmos aulas, mas conseguiram para pessoas controlarem os exames. Nem são professores”, denunciou Ercília Chaúque, professora da Unidade “2”. A direcção da Escola Primária Unidade 2, na Cidade de Maputo desmente a informação e diz que está a recorrer aos professores do primário para garantir que o processo decorra sem sobressaltos. “Não constitui a verdade. Nós pedimos reforço aos colegas do ensino primário. O que está a acontecer é que quando o professor já vem trajado de bata, eles não deixam entrar. Estão a forçar os outros a aderir à manifestação. Eu não considero greve. Porque ela (a greve) deve ser comunicada. Eles estão a manifestar-se e é justo”, apontou Maria Francisca, directora da “Unidade 2”. Mas isto não significa que os docentes em greve não façam falta. “Fazem falta porque, em algum momento, acabamos sobrecarregando os poucos que estão aqui dentro. Em todas as salas temos professores. Em algum momento, o que falta é a duplicação porque tinham que ser dois professores por júri”, explicou Maria Francisca, directora da “Unidade 2”. Em algumas escolas, os professores são acusados de mandar voltar os docentes chamados para controlar os exames, no lugar dos que estão em greve, mas eles desmentem tudo. “Os professores estão, todos eles, unidos e solidários uns com os outros. Então, essa tese de que estão a ser forçados a aderir não é verdade. Todos os professores são maiores de idade e é consciente. Cada professor sabe que a luta é toda nossa. Não há possibilidade de nenhum professor ser coagido ou não. Nós vamos até ao fim”, disse Monteiro, professor da secundária da Liberdade. Na província Maputo, contam-se oito escolas que, esta segunda-feira, não realizaram exame, nomeadamente: Escola Secundária da Liberdade, Escola Secundária de Matlemele, Escola Secundária de São Dâmaso, Escola Secundária Malangatana Nguenha, Escola Secundária de Muhalazi, Escola Secundária Filipe Nyusi, Escola Secundária de Massaca e Escola Secundária de Bili Bili. Como os exames não foram realizados, os alunos voltaram para casa. “Estamos a ir para casa porque dizem que não teremos exames porque os professores estão em greve”, afirmou Ana Muchave, aluna da Escola Secundária da Liberdade, secundada pela colega Olinda Vumo, que lamenta ter estudado “muito para nada”. Nas demais escolas secundárias da Cidade e província de Maputo, houve a realização de exames. Na Escola Secundária Zedequias Manganhela, todos os professores estiveram na escola para controlar os exames. “Nós nem nos apercebemos que havia algum tipo de manifestação. Os exames na nossa escola estão a decorrer normalmente. Temos os 54 professores previstos presentes e os alunos, também, estão em grande número. Então, está tudo a correr normalmente”, avançou Victor Viriato, director pedagógico da Zedequias Manganhela. Mas isto não significa que eles foram pagos as horas extraordinárias. “Nós conversamos com eles e explicamos que o Estado está ciente da dívida que tem com eles. Asseguramos que, a qualquer momento, este valor poderá ser pagos. Eles ficaram sensíveis à situação e estamos a trabalhar”, concluiu Victor Viriato. Sobre estes assuntos episódios, contactos as direcções de Educação na Cidade e província de Maputo, mas sem sucesso. A previsão é que sejam submetidos aos exames finais, mais de 700 mil alunos em todo o país.