O investigador João Feijó, do Observatório do Mundo Rural (OMR), classifica o estado da educação em Moçambique como um problema "mais grave que o terrorismo" para o futuro do país, em particular no ensino primário e no meio rural.
<p> <audio class="audio-for-speech" src=""> </audio> </p> <div class="translate-tooltip-mtz translator-hidden"> <div class="header"> <div class="header-controls">Translator</div> <div class="header-controls"> </div> <div class="header-controls"> </div> </div> <div class="translated-text"> <div class="words"> </div> <div class="sentences"> </div> </div> </div> <p>Feijó falava em entrevista à Lusa, ao comentar a necessidade de investimento no setor em Cabo Delgado, província do norte, rica em gás, mas afetada por uma insurgência armada há quatro anos.</p> <p>"Colocou-se a carroça à frente dos bois", refere o sociólogo e doutorado em estudos africanos, numa alusão ao avanço dos investimentos industriais na península de Afungi, no distrito de Palma, sem uma aposta prévia na educação.</p> <p>Uma situação que se encaixa num problema nacional, adjetivando o estado da educação como "uma fraude" e "um cancro", dentro do qual particularizou a situação do ensino primário.</p> <p>"Toda a gente está a ver que as crianças da escola primária acabam a quinta classe sem saber ler e escrever o nome", referiu, ao retratar o que considera ser a situação da maioria dos alunos.</p> <p>Ao mesmo tempo, "toda a gente sabe" que a maioria dos professores "não tem competências para ensinar".</p> <p>"Eu ando pelo mato, contrato professores para aplicar questionários, e os professores rurais que estão nessas escolas não sabem calcular áreas", exemplificou.</p> <p>São docentes "que leem a soletrar", acrescentou, para reforçar o retrato das dificuldades, no meio das quais os bons docentes são a exceção: "a maioria tem graves carências e, os alunos, a mesma coisa".</p> <p>Diz que entra a falar em português nas escolas rurais, "mas ninguém percebe" o que diz, referindo-se a estudantes da quinta à sétima classe de escolaridade, mas que só dominam as línguas locais.</p> <p>João Feijó conclui que "o estado do ensino primário é o maior engano coletivo".</p> <p>"Estamos a criar duas cidadanias como havia no tempo colonial: o branco e o assimilado na cidade com acesso a ensino de qualidade e depois os indígenas que estavam no mato" - e mesmo no mundo urbano de hoje há uma diferença entre quem vai às escolas privadas e às públicas.</p> <p>Ir estudar para escolas públicas, onde há uma falta de condições generalizada, é o castigo com que alguns país ameaçam os filhos que frequentam o ensino privado, quando têm más notas, descreve.</p> <p>Neste contexto, a situação da educação em Cabo Delgado é ainda mais delicada, tendo em conta as necessidades de formação, se se quiser que a população tenha emprego nos megaprojetos de gás.</p> <p>"Houve pouco investimento na educação. Em Palma", conhecida como vila do gás, dada a proximidade dos projetos, "atá ao ano passado não havia nenhum centro de formação".</p> <p>"O primeiro foi criado poucas semanas antes do ataque" que há um ano levou à suspensão do projeto de exploração e liquefação de gás da Totalenergies - o maior investimento privado em África no valor de 20 mil milhões de euros.</p> <p>"Colocou-se a carroça à frente dos bois", refere João Feijó.</p> <p>"As pessoas que se quisessem formar tinham de ir a Pemba", capital provincial de Cabo Delgado.</p> <p>Por outro lado, Feijó questiona os planos de formação e a rapidez de aplicação.</p> <p>"A formação não se faz de forma intensiva, em três, quatro meses ou num ano. A formação é uma coisa que exige paciência", referiu.</p> <p>"Os jovens locais apercebem-se que o nível de qualidade da educação não é competitiva para os tornar concorrentes" em relação "às pessoas do sul [do país, numa alusão à capital, Maputo] ou do exterior", pelo que "sentem-se desprotegidos".</p> <p> </p> <p>Leia Também: <a href="https://www.noticiasaominuto.com/mundo/1952704/mocambicanos-arriscam-a-vida-entre-pontes-e-casas-destruidas-pelo-ciclone" target="_blank">Moçambicanos arriscam a vida entre pontes e casas destruídas pelo ciclone</a></p>