E-Learning
  • Para Mais Informações!
  • +258 87 30 30 705 | 84 63 21 734
  • info@edu-tech-global.com
Escolas “maquiam” pautas e aprovam alunos sem competências

Há professores e direcções de escolas que manipulam pautas para aprovar alunos que não sabem ler nem escrever

<p>H&aacute; professores e direc&ccedil;&otilde;es de escolas que manipulam pautas para aprovar alunos que n&atilde;o sabem ler nem escrever. Uma investiga&ccedil;&atilde;o exclusiva do jornal &ldquo;O Pa&iacute;s&rdquo; traz com detalhe como o esquema funciona. Os especialistas n&atilde;o t&ecirc;m d&uacute;vidas de que tal facto revela que a educa&ccedil;&atilde;o no pa&iacute;s est&aacute; no fundo do po&ccedil;o.</p> <p>O Sistema Nacional de Educa&ccedil;&atilde;o n&atilde;o anda bem e quase todos sabem disso, desde as falhas nos livros, testes, at&eacute; ao pagamento de horas extras aos professores. Isto &eacute; parte dos problemas, em resumo. S&oacute; que h&aacute; outro que &eacute; trancado a sete chaves e estas lan&ccedil;adas ao fundo do mar.</p> <p>Na verdade, &eacute; um esquema que envolve todos. Da base ao topo. Estamos a falar da manipula&ccedil;&atilde;o de resultados pedag&oacute;gicos para passar alunos sem compet&ecirc;ncias b&aacute;sicas de leitura e escrita.</p> <p>Com exclusividade, o jornal &ldquo;O Pa&iacute;s&rdquo; investigou o caso. Os professores s&atilde;o o motor que faz funcionar a educa&ccedil;&atilde;o. S&atilde;o eles os principais protagonistas nesta reportagem. Ser&atilde;o tratados na condi&ccedil;&atilde;o de anonimato.</p> <p>Dizem eles que d&atilde;o o melhor de si em cada palavra escrita, lida e ensinada aos alunos, mas, no final, n&atilde;o &eacute; s&oacute; isto que conta.</p> <p>&ldquo;Quando tu vais entregar uma pauta, o DEC, costumam perguntar se observou quest&otilde;es de percentagem. Ent&atilde;o, a percentagem que &eacute; apresentada nas escolas, hoje em dia, n&atilde;o reflete a realidade&rdquo;, denunciou Eduardo, nome fict&iacute;cio de um professor secund&aacute;rio.</p> <p>A realidade n&atilde;o est&aacute; nos n&uacute;meros apresentados, pois os professores s&atilde;o for&ccedil;ados a aprovar alunos que sequer sabem ler muito menos escrever.</p> <p>&ldquo;A orienta&ccedil;&atilde;o &eacute; que n&oacute;s devemos estar preocupados com os n&uacute;meros. Esses mesmos n&uacute;meros devem ser positivos&rdquo;, revelou outro professor, que vamos trat&aacute;-lo por Helton, nesta reportagem.</p> <p>E a percentagem s&oacute; &eacute; considerada positiva a partir de 75 por cento de alunos aprovados por turma. A ordem &eacute; clara. Ningu&eacute;m deve apresentar abaixo disso.</p> <p>&ldquo;Ent&atilde;o, nenhum professor deve dar-se ao capricho de apresentar uns 30 por cento, uns 20 por cento que &eacute; a realidade muitas das vezes. Se apresenta esse tipo de percentagem, vai alterar isso. Dizem mesmo que o professor tem que alterar isso&rdquo;, referiu Eduardo, acrescentando que a &ldquo;ordem superior&rdquo; vem com um tom de amea&ccedil;a &agrave; mistura: &ldquo;Se voc&ecirc; n&atilde;o altera, &eacute; normal no ano seguinte ser transferido para uma outra escola&rdquo;.</p> <p>A busca de n&uacute;meros positivos, mas vazios de conte&uacute;do, estende-se at&eacute; &agrave;s salas de exame.</p> <p>&ldquo;H&aacute; aquele momento em que o professor dita as respostas, mas o aluno n&atilde;o sabe escrever. Ent&atilde;o, h&aacute; professores que ajudam mesmo para o aluno conseguir ter nota e passar&rdquo;, acrescentou o professor Eduardo.</p> <p>E no meio dessas graves acusa&ccedil;&otilde;es, incluem-se as direc&ccedil;&otilde;es das escolas. &ldquo;Preocupam-se mais em querer estar numa situa&ccedil;&atilde;o da escola melhor, porque aquele que apresentar uma escola com melhor percentagem &eacute; o melhor, &eacute; a melhor escola, &eacute; o tal director, posso assim dizer&rdquo;, observou o professor Helton.</p> <p>Com exclusividade, tivemos acesso a mapas de notas, mais conhecidos por DEC, de algumas escolas nas vers&otilde;es original e manipulada. Os documentos s&atilde;o do aproveitamento pedag&oacute;gico do trimestre passado.</p> <p>Numa das vers&otilde;es iniciais entregue pelo professor &agrave; direc&ccedil;&atilde;o da escola, foram reprovados 27 alunos do total de 75. O director da escola n&atilde;o gostou do resultado e, para a vers&atilde;o final, ordenou ao professor a subir o n&uacute;mero para 40 alunos aprovados.</p> <p>Noutro mapa, de acordo com a sua avalia&ccedil;&atilde;o, foram reprovados 21 alunos, mas a cifra n&atilde;o agradou ao director, que exigiu que fossem reprovados apenas 13.</p> <p>E com dados supracitados, os directores e as respectivas escolas s&atilde;o bem vistos, mas os seus alunos t&ecirc;m a leitura como um quebra-cabe&ccedil;a. A nossa equipa de reportagem foi a algumas escolas da Cidade e Prov&iacute;ncia de Maputo, onde encontrou crian&ccedil;as que passaram das classes iniciais at&eacute; &agrave;s actuais sem saber ler nem escrever.</p> <p>Com os alunos, come&ccedil;&aacute;mos por fazer um breve exerc&iacute;cio de leitura. Desafi&aacute;mos um dos alunos a ler o excerto de um texto do jornal Canal de Mo&ccedil;ambique: &ldquo;Texto lido: CDD alerta para o risco de a miss&atilde;o militar da SADC terminar sem esclarecimento do esc&acirc;ndalo da queima de corpos em Cabo Delgado&rdquo;.</p> <p>Logo no in&iacute;cio da leitura, o menino ficou em sil&ecirc;ncio&hellip; o aluno da s&eacute;tima classe n&atilde;o conseguiu ler o texto at&eacute; ao fim.</p> <p>O aluno que foi aprovado da primeira at&eacute; &agrave; s&eacute;tima classe tem graves falhas de escrita.</p> <p>Para os petizes, palavra&nbsp;<strong>Hino&nbsp;</strong>&eacute; escrita sem&nbsp;o<strong>&nbsp;H,&nbsp;</strong>ficando<strong>&nbsp;ino.&nbsp;</strong>O termo<strong>&nbsp;reensinando&nbsp;</strong>&eacute; escrito desta forma:<strong>&nbsp;&ldquo;reicinando&rdquo;. Social&nbsp;</strong>escreve-se, segundo alunos, assim:<strong>&nbsp;&ldquo;cocial&rdquo;.&nbsp;</strong>J&aacute; a palavra&nbsp;<strong>participa,&nbsp;</strong>os alunos escrevem assim:<strong>&nbsp;&ldquo;partimpa&rdquo;.</strong></p> <p>Esta &eacute; apenas uma demonstra&ccedil;&atilde;o da forma como os alunos da s&eacute;tima classe escrevem e sequer conseguem ler o que eles pr&oacute;prios escreveram.</p> <p>Recuamos um pouco at&eacute; &agrave;s classes iniciais. Especificamente a quinta classe. Para os alunos deste n&iacute;vel, escrever o pr&oacute;prio nome &eacute; uma opera&ccedil;&atilde;o matem&aacute;tica.</p> <p>Resumindo, nas turmas visitadas pela nossa equipa de reportagem, grande parte dos alunos tamb&eacute;m n&atilde;o sabe ler. Entretanto, nem tudo corre mal. H&aacute; bons exemplos. Alunos que sabem ler e escrever perfeitamente.</p> <p>Os professores est&atilde;o cientes dos problemas de leitura e escrita que os alunos apresentam. Reconhecem que algo falhou nas classes iniciais.</p> <p>&ldquo;Alguns dos meus alunos n&atilde;o sabem ler nem escrever. Eu sei disso. Algo falhou na base. Mas n&atilde;o estou aqui para apontar falhas, mas para arranjar solu&ccedil;&otilde;es&rdquo;, disse Celestino Coronel, professor de uma das escolas da capital do pa&iacute;s.</p> <p>Os directores de algumas escolas desmentem que haja alunos que transitem de classe para outra sem saber ler nem escrever. &ldquo;No final de cada trimestre, eles s&atilde;o submetidos a uma prova e, com base nela, n&oacute;s j&aacute; sabemos quantos alunos temos na escola que sabem ler e escrever. Os que n&atilde;o sabem ficam retidos na mesma classe&rdquo;, explicou Carla Sambo, directora da Escola Prim&aacute;ria Completa 25 de Setembro.&nbsp;</p> <p>Segundo a gestora escolar, n&atilde;o &eacute;, tamb&eacute;m, verdade, segundo as direc&ccedil;&otilde;es das escolas, que haja manipula&ccedil;&atilde;o de resultados para aprova&ccedil;&atilde;o de alunos. &ldquo;N&oacute;s temos exames no fim do ciclo. L&aacute;, s&oacute; passa quem re&uacute;ne as condi&ccedil;&otilde;es para ser aprovado&rdquo;, sublinhou Carla Sambo.</p> <p>At&eacute; se pode passar para a classe seguinte, mas a busca da qualidade de ensino &eacute; constante. &ldquo;Os desafios s&atilde;o aquilo que n&oacute;s estamos sempre a fazer: lutar para melhorar a qualidade, mas estamos a um bom passo&rdquo;, afirmou Am&iacute;lcar Bata, director da Escola Prim&aacute;ria Completa Unidade 10.</p> <p>Estes s&atilde;o os discursos formais e politicamente correctos que as c&acirc;maras mostram e os gravadores captam.</p> <p>Convers&aacute;mos com directores de algumas escolas e estes revelaram tudo.&nbsp;Contaram que tamb&eacute;m recebem ordens superiores para passar alunos sem compet&ecirc;ncias.</p> <p><strong>&ldquo;No fim do ano, h&aacute;-de vir uma adenda de l&aacute; de cima a dizer: senhor director, controla a situa&ccedil;&atilde;o. Quer dizer que tem de deixar passar aquele que tem sete (valores)&rdquo;. N&atilde;o se arredonda, mas vai aparecer algu&eacute;m a dizer que temos de ponderar a partir de sete&rdquo;, revelou o director.</strong></p> <p>O incumprimento da manipula&ccedil;&atilde;o pode colocar em causa o cargo de director da escola. &ldquo;At&eacute; a mim me dizem: voc&ecirc; est&aacute; a&iacute; a fazer o qu&ecirc;&nbsp; como director? Voc&ecirc; n&atilde;o est&aacute; a fazer nada. Como a sua escola &eacute; sempre a &uacute;ltima, voc&ecirc; n&atilde;o est&aacute; a fazer nada. E depois as pr&oacute;prias direc&ccedil;&otilde;es provinciais tamb&eacute;m v&atilde;o dizer que at&eacute; Cabo Delgado, l&aacute; onde h&aacute; guerra (apresentam melhores resultados). Ent&atilde;o, este director est&aacute; a fazer o qu&ecirc;?&rdquo;, detalhou a nossa fonte.</p> <p>A Organiza&ccedil;&atilde;o Nacional dos Professores (ONP), diz que desconhece a press&atilde;o exercida sobre os docentes para a manipula&ccedil;&atilde;o de pautas. &ldquo;Oficialmente, eu n&atilde;o posso afirmar. Estou na sociedade mo&ccedil;ambicana e tenho acompanhado que os professores devem resolver algumas situa&ccedil;&otilde;es. Mas o director da escola n&atilde;o pode obrigar o professor a inventar percentagem. Em contrapartida, ele &eacute; culpado porque n&atilde;o fez o acompanhamento do seu professor durante a aula, se ele ministra bem ou n&atilde;o&rdquo;, negou Teodoro Muidumbe, secret&aacute;rio-geral da Organiza&ccedil;&atilde;o Nacional dos Professores.</p> <p>O secret&aacute;rio-geral da ONP diz n&atilde;o ser normal que um aluno chegue &agrave; quinta classe sem saber ler nem escrever e culpa o sistema.&nbsp;&ldquo;A crian&ccedil;a que est&aacute; na primeira classe deveria chegar &agrave; quinta com o mesmo professor, porque este estaria a acompanhar a sua evolu&ccedil;&atilde;o. Ademais, para as classes iniciais, o n&uacute;mero de alunos deveria ser reduzido, entre 30 e 40, para o professor poder acompanhar cada crian&ccedil;a e conhecer os seus problemas&rdquo;, sugeriu o secret&aacute;rio-geral da ONP.&nbsp;</p> <p>A ONP insta os professores a denunciarem para, assim, a organiza&ccedil;&atilde;o tomar medidas junto da escola em causa.</p> <p>Os especialistas em educa&ccedil;&atilde;o dizem que a falta de autonomia dos professores para que possam agir de acordo com os padr&otilde;es pedag&oacute;gicos e a m&aacute; interpreta&ccedil;&atilde;o de progress&otilde;es semi-autom&aacute;ticas pode estar por tr&aacute;s da manipula&ccedil;&atilde;o de resultados.&nbsp;</p> <p>O conceito de progress&otilde;es semi-autom&aacute;ticas surgiu em 2004 e estabelece que os alunos s&oacute; s&atilde;o retidos por ciclo e n&atilde;o mais de duas vezes na mesma classe.</p> <p>Assim, de acordo com a nova Lei do Sistema Nacional de Educa&ccedil;&atilde;o, os alunos s&oacute; devem ou pelo menos deveriam ser retidos na terceira e sexta classes para o ensino prim&aacute;rio; na nona e d&eacute;cima segunda classes no secund&aacute;rio.</p> <p>&ldquo;Entrou-se num c&iacute;rculo vicioso, em que todos passam e ningu&eacute;m tem o cuidado de, na classe seguinte, tentar perceber quais s&atilde;o as compet&ecirc;ncias que faltam &agrave;queles alunos&rdquo;, observou o especialista em educa&ccedil;&atilde;o da Universidade Pedag&oacute;gica de Maputo, Camilo Usse.</p> <p>E disse mais: &ldquo;Hoje em dia, n&oacute;s vemos crian&ccedil;as de quinta, sexta e s&eacute;tima, at&eacute; estudantes das universidades com muitos d&eacute;fices de leitura e escrita. Isso se aprende na segunda classe. Ningu&eacute;m deveria passar da primeira para segunda sem saber ler e escrever&rdquo;.</p> <p>Camilo Ussene diz que n&atilde;o faz sentido justificar a manipula&ccedil;&atilde;o de resultados com a falta de infra-estruturas escolares.</p> <p>&ldquo;N&atilde;o temos de pensar em aprovar 100 por cento, porque,quando nos dermos conta, dos 100 por cento, apenas 40 por cento &eacute; que tem as compet&ecirc;ncias. N&atilde;o devemos preocupar-nos com os n&uacute;meros, mas sim ter o cuidado pedag&oacute;gico, de cidadania, de criar condi&ccedil;&otilde;es para que os outros 60 por cento saibam ler e escrever&rdquo;, indicou Camilo Ussene.</p> <p>Mais do que um crime, manipular dados para aprovar alunos sem compet&ecirc;ncia &eacute; matar a educa&ccedil;&atilde;o. &ldquo;Est&aacute; a matar uma sociedade e c&eacute;rebros. Podem n&atilde;o assumir a coisa, mas como j&aacute; &eacute; um problema, h&aacute; um ru&iacute;do. Existe algo errado. &Eacute; preciso fazer um trabalho de base de pesquisa e interven&ccedil;&atilde;o para salvar o pa&iacute;s&rdquo;, exortou Gildo Comenguena, especialista em educa&ccedil;&atilde;o.</p> <p>Gildo Comenguena defende que o professor deve pautar pela &eacute;tica e deontologia profissional e nunca ceder &agrave; press&atilde;o. &ldquo;Se eu, como professor, aceito ser manipulado, eu estou a faltar &agrave; responsabilidade, como educador. Tenho de saber que a minha satisfa&ccedil;&atilde;o, como professor, &eacute; ver o aluno brilhar&rdquo;, concluiu Gildo Comenguena.</p> <p>Actualmente, a taxa de&nbsp;analfabetismo&nbsp;no pa&iacute;s &eacute; de 49 por cento nas mulheres e 27 por cento nos homens.</p> <p>&nbsp;</p> <p>Fonte: O Pais -&nbsp;https://opais.co.mz/escolas-maquiam-pautas-e-aprovam-alunos-sem-competencias/</p>

Tags:
Partilhar: