Lançado na Índia, satélite vai gerar imagens mais precisas do desmatamento e de eventuais catástrofes ambientais. Material obtido pelo equipamento deve ser acessível a pesquisadores.
<p>Lançado na madrugada de domingo (28/02), o primeiro satélite 100% nacional vai monitorar o desmatamento, sobretudo na região amazônica, como seu próprio nome sugere. Batizado de <strong>Amazonia-1</strong>, ele foi totalmente projetado, integrado e testado pelo país — e, a partir de então, será também operado exclusivamente pelo Brasil.</p> <p>Desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (<a href="https://g1.globo.com/tudo-sobre/inpe/">Inpe</a>), integra a chamada <strong>Missão Amazônia</strong>: um esforço da entidade em melhorar o chamado sensoriamento remoto da natureza brasileira.</p> <p><img alt="VÍDEO: Veja o momento em que o satélite Amazônia 1 se desprende de foguete e entra em órbita" src="https://s01.video.glbimg.com/x720/9308116.jpg" /></p> <p>VÍDEO: Veja o momento em que o satélite Amazônia 1 se desprende de foguete e entra em órbita</p> <p>Conforme enfatiza o Inpe em texto que apresenta o trabalho, além da floresta amazônica, "os dados gerados serão úteis para atender, ainda, a outras aplicações correlatas, tais como: monitoramento da região costeira, reservatórios de água, florestas naturais e cultivadas, desastres ambientais, entre outros”.</p> <p> </p> <ul> <li><a href="https://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2021/02/09/com-inpe-sem-verba-aeb-assume-custo-de-bolsas-para-pesquisadores-do-amazonia-1.ghtml">Com Inpe sem verba, AEB assume custo de bolsas para pesquisadores do Amazônia 1</a></li> <li><a href="https://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2021/02/16/ex-diretor-do-inpe-recebe-premio-internacional-por-liberdade-e-responsabilidade-cientifica.ghtml">Ex-diretor do Inpe recebe prêmio internacional por liberdade e responsabilidade científica</a></li> </ul> <p> </p> <p>O Amazonia-1 é o terceiro satélite a realizar tal trabalho para o Brasil. Ele se soma aos <a href="http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2014/12/parceria-entre-brasil-e-china-satelite-cibers-4-e-lancado-ao-espaco.html">CBERS-4</a> e <a href="https://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2019/12/20/sexto-satelite-feito-em-parceria-entre-brasil-e-china-cbers-4a-e-lancado-ao-espaco.ghtml">CBERS-4A</a>, que já estavam em operação.</p> <p> </p> <blockquote>"Temos a possibilidade de contar com três satélites com desenvolvimento brasileiro [os outros dois em parceria com a China] operando simultaneamente. Com isso, será gerado maior volume de dados para tratamento de questões ambientais e de preservação da cobertura vegetal”, afirma o diretor do Inpe, o engenheiro eletricista Clezio Marcos de Nardin.</blockquote> <p> </p> <p>E a missão prevê, para os próximos anos, o lançamento de outros dois: <strong>Amazonia-1B </strong>e <strong>Amazonia-2</strong>.</p> <p> </p> <ul> <li><a href="https://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2019/12/31/inpe-divulga-primeiras-imagens-feitas-pelo-satelite-cbers-4a.ghtml">Inpe divulga primeiras imagens feitas pelo satélite Cbers-4A</a></li> </ul> <p> </p> <p>"O Amazonia-1 […] reforçará nosso sistema de aquisição de dados e de geração de imagens”, afirma Nardin, explicando que o equipamento deve gerar "dados sobre vegetação, agricultura, compor sistemas de alertas, entre outras aplicações”.</p> <p>De acordo com com o diretor do Inpe, a expectativa é que haja um ganho principalmente no volume de dados obtidos.</p> <p> </p> <h2>Uso para a agricultura</h2> <p> </p> <p>Graças a uma câmera de alta resolução e amplo espectro, o material produzido pelo satélite também deve ser útil para a agricultura. "Entre as possibilidades de monitoramento de fenômenos dinâmicos encontram-se as safras agrícolas e a determinação de queimadas persistentes”, afirma ele.</p> <p> </p> <ul> <li><a href="https://g1.globo.com/natureza/noticia/2020/08/24/como-funcionam-os-satelites-que-monitoram-desmatamento-na-amazonia-pais-tem-volume-de-dados-absurdo-segundo-especialistas.ghtml">Entenda como funcionam satélites que monitoram desmatamento na Amazônia</a></li> </ul> <p> </p> <p>O equipamento é projetado para gerar imagens do planeta a cada cinco dias — e, sob demanda, é capaz de fornecer dados de um ponto específico em dois dias. Em caso de um eventual desastre ambiental, por exemplo, como o rompimento da barragem em Mariana, em 2015, o monitoramento poderá ser ajustado para o local. Focos de queimada também poderão ser visualizados. A estrutura conta com 14 mil conexões elétricas. Se esticados, todos os seus fios chegariam a 6 quilômetros.</p> <p><img alt="Amazônia 1 sendo integrado ao PSLV, dias antes do lançamento. — Foto: Divulgação/Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais" src="https://s2.glbimg.com/q5-x88iVVibVd0t34Rjh9bRLBsw=/0x0:700x468/1008x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2021/V/d/3Z8VfoQae16L5PHkhMQw/amazonia1integradopslv.jpg" /></p> <p>Amazônia 1 sendo integrado ao PSLV, dias antes do lançamento. — Foto: Divulgação/Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais</p> <p>Conforme enfatiza o agrônomo Cláudio Almeida, coordenador do programa de monitoramento da Amazônia e demais biomas, do Inpe, o maior ganho se dará pela soma. Com três satélites em operação, um mesmo ponto pode ser "revisitado” em um intervalo de um a dois dias — conferindo precisão inédita ao monitoramento.</p> <p>Todo o material coletado deve ser disponibilizado para a comunidade científica.</p> <p> </p> <blockquote>"O Inpe foi pioneiro na política de disponibilizar dados de sensoriamento remoto gratuitamente desde 2004. E essa política deve ser mantida para o Amazonia-1, de modo que toda a sociedade tenha acesso às imagens e possa utilizá-las”, acrescenta Almeida.</blockquote> <p> </p> <p>O lançamento foi feito na Índia, para onde o satélite havia sido enviado há dois meses.</p> <p>"Foi realizada uma concorrência internacional para a escolha do foguete responsável [pela operação]. A proposta vencedora foi a do Polar Satellite Launche Vehicle, um lançador indiano”, esclarece Nardin.</p> <p>Para o desenvolvimento do satélite<strong> foram investidos cerca de R$ 300 milhões</strong>. A contratação do veículo indiano custou outros R$ 20 milhões.</p> <p>Todo o projeto foi concebido no início dos anos 2000. Até 2008 era conduzido pela Agência Espacial Brasileira (AEB), autarquia do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.</p> <p>"A complexidade envolvida em projetos espaciais, a necessidade de estabelecer diversas contratações industriais e a experiência do Inpe nos desenvolvimentos e contratações industrais fizeram com que esse desenvolvimento fosse transferido para o instituto [o Inpe]”, conta Nardin.</p> <p><img alt="VÍDEO: Satélite Amazônia 1 levará 100 minutos para dar uma volta na Terra; entenda" src="https://s01.video.glbimg.com/x240/9308108.jpg" /></p> <p>VÍDEO: Satélite Amazônia 1 levará 100 minutos para dar uma volta na Terra; entenda</p> <p>"O Inpe, com essa bagagem histórica [decorrente de outros projetos de satélites, em parceria com instituições estrangeiras], recebeu a incumbência de ser o ‘main contractor' do Amazonia-1. Diversas adequações e adaptações foram necessárias e implementadas nos anos seguintes. Somente em 2014 o satélite ganhou sua configuração final.” No total, todo o projeto envolveu mais de 500 profissionais.</p> <p> </p> <h2>O uso dos dados gerados</h2> <p> </p> <p>À DW, o pesquisador Tiago Reis, que estuda ações de combate ao desmatamento e de uso do solo na Universidade Católica de Louvain, na Bélgica, espera que a melhoria do monitoramento seja acompanhada de uma eficiência na fiscalização.</p> <p>"Do ponto de vista técnico, um trabalho primoroso. Mas a questão é: o que o vamos fazer com esses dados? Será investido mais em fiscalização e combate aos desmatamentos? Isso é o que interesse”, comenta ele.</p> <p>"O satélite novo é muito interessante e realmente vai permitir que o Brasil domine toda a tecnologia de monitoramento e sensoriamento remoto do desmatamento, com precisão e agilidade. Mas isso, de certa forma, já temos e de forma boa o suficiente”, argumenta. "Daqui a pouco, vamos conseguir ver a unha encravada do desmatador. E aí? O que vamos fazer com essa informação? Vamos ficar só olhando ou faremos alguma coisa?”</p> <p> </p>